O rico e o pobre.
Há uma parábola, a do rico e Lázaro, contada por Jesus, onde o rico foi para o inferno e o pobre para o céu Será que Jesus quis dizer que todo rico vai para o inferno e todo pobre para o céu?
Não. A parábola deu margem a esta falsa interpretação, fazendo muita gente pensar que ser rico é ruim e ser pobre é bom, mas isso não é verdade. Esta é uma conclusão precipitada e superficial.
Quando Jesus nos dá um exemplo, é preciso compreender que se trata apenas de um exemplo, e não de todos os casos.
O rico e o pobre da parábola são e-xemplos de maus ricos e bons pobres, mas não representam todos os ricos e todos os pobres. Porque também há bons ricos, maus pobres, e todas as situações intermediárias.
O pobre da parábola era um bom pobre porque era um espírito resignado com sua situação, que suportava, humildemente e sem revolta, a sua miséria. Mas não representa o pobre orgulhoso e revoltado, que não reconhece que está expiando faltas passadas ou suportando uma prova por ele mesmo escolhida no mundo espiritual.
O rico era um mau rico porque era egoísta, e representa os que visam apenas a satisfação própria e não enxergam ou não querem enxer-gar a miséria e o sofrimento dos outros. Não sabem que a secura de seus corações causará secura em suas vidas futuras. Não sabem que, no processo de reencarnação, o rico de hoje poderá ser o mendigo de amanhã, e vice-versa. São os que vestem e alimentam o corpo com requinte, mas não desenvolvem nenhuma virtude para o espírito. Quando morrem, deixam aqui o corpo, muito bem tratado, para apodre-cer, e se veem do outro lado com o espírito ressecado por falta de cuidados. Não sabem que as riquezas materiais são transitórias, não nos pertencem realmente, são propriedade de Deus, e estão apenas temporariamente em nossas mãos. Todas essas riquezas materiais ficam na Terra, e essas pessoas chegam ao mundo espiritual pobres, porque não desenvolveram as verdadeiras riquezas: as virtudes. Sem ne-nhuma riqueza espiritual, que lhes poderia garantir boas moradas, conseguem apenas lugares de tormentos.
A riqueza é uma das provas mais difíceis, porque facilita o desenvolvimento de todas as sensações inferiores ligadas aos prazeres materiais. Por isso Jesus disse: “Em verdade vos digo que o rico dificilmente entrará no reino dos céus. E vos digo ainda: é mais fácil o camelo entrar pelo buraco da agu-lha do que o rico entrar no reino de Deus.” 2
Com esta frase, Jesus enfatiza que a riqueza é uma das maiores provas, mas não que é impossível um rico entrar no reino de Deus.
Existem ricos que aplicam muito bem suas fortunas com amor ao próximo. São aqueles que, por exemplo, mantém escolas e instituições de assistência social, ou amparam atividades bene-ficentes. Enfim, nem a riqueza é passaporte para o inferno, nem a pobreza é passaporte para o céu. Ambas são provações duras, que devem ser enfrentadas com muito equilíbrio, fé e sabedoria.
A salvação, ou não, está nas nossas atitudes, tanto em uma situação como na outra.
E quando se fala em riquezas, logo se pensa em dinheiro e propriedades. Mas não é só isso. Existem outras riquezas, as verdadeiras, maiores que as materiais, como a inteligência, a palavra, a mediunidade, o conhecimento. A Doutrina Espírita traz um verdadeiro tesouro com o conhecimento da realidade espiritual e com a maior facilidade de compreensão dos ensinamentos de Jesus. Aqueles que se dedicam ao seu estudo e à sua prática se tornam verdadeiros ricos, e estas riquezas, da mesma forma que aquelas riquezas materiais, também precisam ser bem utilizadas em benefício do próximo, saciando a fome moral dos mendigos de espírito.
[Jose Dutra] – dutra2507@hotmail.com