Coronavírus, vícios e culpas

Não há escravidão pior que a dos vícios e paixões.

Marquês Maricá

O homem é livre para fazer suas escolhas, somos responsáveis pelo nosso mundo, porque escolhemos e continuamos elegendo todos os dias de acordo com nossa consciência.

Mas, não moramos de graça nesse Universo de Deus. Apesar da graça que Ele nos concedeu, temos que pagar pelas experiências e contingências do planeta que escolhemos. E aqui encontramos as provas que temos que atravessar dia pós dia. Nestes dias estamos frente a teste do Covid-19, uma gripe que pode ser fatal. Na Itália, como no Brasil (que somos quase quatro vezes maiores em população que os italianos), pode ocorrer a morte em massa de muitos idosos.

O Colégio Italiano de Anestesia, Analgesia, Ressuscitação e Cuidado Intensivo (SIAARTI, na sigla em italiano) divulgou um documento em que prevê que a falta de recursos suficientes para tratar todos os pacientes graves pode fazer com que médicos e enfermeiros tenham de escolher quem será admitido nas unidades de tratamento intensivo (UTI) de acordo com suas chances de sobreviver.

A entidade diz que pode ser necessário estabelecer um limite de idade para os pacientes atendidos nas UTIs, reservando os recursos disponíveis para aqueles que têm não apenas maior chance de sobreviver, mas também que viverão por mais tempo após serem salvos.

No Brasil, o ministro Mandetta pediu que sejam liberados R$ 5 bilhões em recursos para combater a pandemia e disse que o Sistema Único de Saúde (SUS), do qual dependem exclusivamente os quase 70% de brasileiros que não têm plano de saúde, não suportará a demanda criada pelo novo coronavírus.

Ter ou sofrer a gripe do coronavírus ninguém em sã consciência deseja.

Mas outras doenças e que matam muito mais, muita gente escolhe e elege como preferida. Veja o que disse o dramaturgo francês Moliére (Jean-Baptiste Poquelin – 1622/1673): “Todos os vícios, quando estão na moda, passam por virtudes”.

É notório o favorecimento à liberação da maconha e outras drogas por nomes como Fernando Henrique Cardoso, Gilberto Gil, Caetano Veloso, o ex-deputado e jornalista Fernando Gabeira, que fez manifesto sugerindo “fazer referendo sobre legalização das drogas”.

Em sã consciência, devemos fazer escolhas das quais não venhamos a nos arrepender amanhã. Escolhas que não nos tirem a liberdade. Vícios inúteis, como o tabagismo, drogas (não existem dependentes químicos vitoriosos, no campo do conhecimento, da ciência, da medicina). Nas escolas e faculdades é comum os jovens dizerem: “são jovens, estão ali puxando um fumo, ou bebendo, estão curtindo” – aguardem alguns anos e vamos ver o que gerou aquilo. Afastar-se das dependências das drogas (álcool também é droga, bem como cigarro) para quê? Para ter futuro. Para ter futuro precisamos ter liberdade, e o que garante o futuro são as opções, e para obtê-las não podemos ter nenhum vício. O vício reduz as liberdades e tira o nosso poder de decisão.

O escritor brasileiro Paulo Coelho, em um depoimento, disse que drogas dão prazer, mas tiram a coisa mais importante que temos: “o poder de fazer escolhas, de ter liberdade”. O também compositor convívio com Raul Seixas.

Não nos libertamos de um hábito, atirando-o pela janela; é preciso fazê-lo descer a escada, degrau a degrau, segundo o escritor e humorista Mark Twain.

Xavier de Maistre foi um pensador que influenciou as obras do nosso Machado de Assis; é do escritor francês esta frase que define o castigo ou punição às dependências químicas: “O vício tem somente como recompensa o arrependimento”.

Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é bacharel em direito com especialização em dependência química pela USP/SP/GREA.
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