Quarentena de Moisés, Jesus e Coronavírus
Repara que o outono é mais estação da alma do que da natureza.
Friedrich Nietzsche
Chega o outono como um trabalho de resguardo para o inverno que vem depois. Ele chega para nos dizer que é preciso desapegar de muitas coisas para que a renovação venha ocorrer. Os pássaros trocam de penas, para brilharem e cantarem na nova estação que não está distante.
Ao som melancólico do vento partem os barcos e almas para novas experiências, e parecem se distanciar, parece tudo natural, sempre igual, as folhas se derramam em meu quintal, como nossas existências parecem passageiras, quais as nuvens ligeiras da estação outonal. E se tem um tempo outonal, existe a alegria e a esperança da primavera, que não tarda a chegar e vai colorir e colocar as folhas e flores em seu lugar.
Consta na Bíblia que o dilúvio durou 40 dias e passou; que a busca pela terra prometida se estendeu por 40 anos (e até hoje não encontraram esse paraíso, simplesmente por que ele não está fora de nós e sim dentro de cada um). (1)
Há muitos séculos um homem se debruçou em oração no monte Sinai, por quarenta dias, e trouxe as tábuas dos dez mandamentos (ordem ou regras), que estabeleceram a unicidade do Criador, a lei, a justiça, o preceito moral e o amor. (2)
Séculos transcorreram e veio Jesus e deu o exemplo também de disciplina e espiritualidade, fazendo uma quarentena de jejum, oração e meditação no deserto da Judeia. Na ocasião também passou pela tentação do mundo e, respeitando a natureza (“nem só de pão vive o homem”) e ao Criador, afirmou: “ao Senhor teu Deus adorarás, e só a Ele servirás”. (3)
Começou pela China, chegou à Europa e agora nas Américas a quarentena para combater um mal que se espalha pelo contato entre os que deveriam se abraçar, conforme o ensinamento de Jesus (“meus discípulos se reconhecerão por muito se amarem”). E agora temos que nos amar cada um em sua casa.
Todos confinados em casa, lá fora o ar se purifica, as aves e animais podem ter paz e a natureza agradece porque não estão cortando árvores e poluindo os mares; no alto, as estrelas brilham cristalinamente, parece-nos que o planeta forçou o mundo a parar para não se contaminar ou para se curar.
O coronavírus, que assustou e exilou a China, fez com que a estrela de cinco francos italianos se empalidecesse de dor por não poder chorar as lágrimas por seus queridos, que são transportados em veículos de guerra.
Outros dizem, “dormimos em um mundo e acordamos em outro, a muralha da China não é mais a fortaleza; abraços e beijos tornam-se armas, e não visitar pais e avós, um gesto de amor. De repente se descobriu que o poder não tem tanto valor e que o dinheiro não tem tanto poder”.
Moisés e Jesus saíram vencedores de suas quarentenas. Com apoio deles, e do Poder Superior, seremos vencedores de nós mesmos em busca de uma sociedade melhor e mais justa para conosco e com o próximo.
Cristo, após sua crucificação, voltou a conversar com os amigos e discípulos por mais 40 dias, até voltar novamente ao governo da Terra, e deixou essa afirmação positiva para todos nós: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo – eu venci o mundo”.
(1) Gênesis 7:17
(2) Êxodo 34:28; Deuteronômio 4:13
(3) Mateus 4:1-10
(4) João 16:33
Arnaldo Divo Rodrigues de Camargo é editor da Editora EME