Elias, João Batista e Kardec. Os três são o mesmo Espírito?

[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br

Estávamos com uma obra praticamente concluída, A História do Espiritismo: da França de Kardec ao Brasil de Chico, quando ao realizarmos uma leitura de um artigo publicado por Cairbar Schutel, em O Clarim, em 30 de setembro de 1922, nos deparamos com uma curiosa afirmação deste: “Elias foi a ciência revelando os seus fatos positivos na mais miraculosa manifestação; João Batista a moral austera na mais acrisolada expressão; Allan Kardec a Sabedoria amorosa que reflete a Verdade Divina. São três personalidades distintas, mas um mesmo é o Espírito nas mais gloriosas e salientes fases da sua evolução espiritual (…).” 1 (p. 10)
Não tínhamos incluído nada em nosso livro a respeito das prévias reencarnações de Allan Kardec; fizéramos quando afirmamos que Chico Xavier é a reencarnação do Mestre lionês; mas, nada colocamos no capítulo referente ao Codificador do Espiritismo.
Como um gatilho, nossa curiosidade foi aguçada; reação típica para o nosso espírito ávido pela pesquisa e conhecimento.
E assim, decidimos ir mais a fundo e incluir umas poucas linhas sobre o tema; bem como compartilhar com você, nosso querido leitor, o resultado de nossas pesquisas.
Iniciemos com o Bandeirante do Espiritismo, Cairbar de Souza Schutel. Nada mais justo, tendo sido ele o catalisador desta decisão.
A primeira referência encontrada, além do artigo supracitado, encontra-se no seu livro Parábolas e Ensinos de Jesus, escrito em janeiro de 1928; e, mais especificamente, no capítulo 14: O Maior Profeta.
“O maior profeta [“Ipse et Elias qui venturus est.” (Mateus, XI, 14.)]
O maior Profeta precede o maior Enviado; aquele é a Voz, este a Ação; um clama, exorta, previne; outro aplaina vales, arrasa montes, derriba árvores, e, em sua passagem pela Terra, deixa um Caminho firme, vasto, imenso, luminoso, que se eleva à morada eterna do Pai!
João batiza com água os arrependidos, para apagar neles as nódoas dos eleitos; Jesus, com fogo, destrói e calcina as doutrinas humanas que lhes obscurecem as almas; se aquele limpa, o outro alveja, para que o Espírito de Deus reflita neles o “amor de Deus e do próximo, que resume a Lei e os Profetas”.
João representa os Profetas: é o maior dos profetas, dos nascidos de mulher; Jesus é a Graça e a Verdade, que recebeu no Tabor os testemunhos da Lei, pelo Espírito de Moisés, e da Profecia, pelo Espírito de Elias; o nosso Mestre é o maior dos enviados: a VOZ O ACLAMOU, quando disse: “ESTE É O MEU FILHO DILETO — OUVI-O.”
Todas as VOZES do Pai Celeste deram testemunho do Nazareno; a Lei, a Profecia, a Graça e a Verdade; de fato, Ele é o Filho Unigênito de Deus em sabedoria e Amor.
João é o maior expoente da Profecia, porque profetizou a vinda e a missão do Maior dos Enviados. O Espírito do Cristo é maior do que tudo e do que todos porque ele foi e é o expoente do Verbo de Deus: “O verbo se fez carne e habitou entre nós”.
Na Antiga Dispensação, Elias é o mais poderoso dos Profetas; na Nova Dispensação, João Batista é o maior; na Novíssima, Allan Kardec é o elevado bom senso, a sublimação da Profecia em seu mais elevado surto: “E se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir”.
Elias é o poderoso dominador das ÁGUAS; de fronte para o alto fez parar as chuvas por três anos e seis meses; ergue um holocausto a seu Deus, o fogo o consome, o céu cobre-se de espessas nuvens e as chuvas caem em jorros para fertilizar a Terra! Nas margens do Jordão, sua paragem predileta, a um sinal de sua capa as águas se abrem e ele passa a pé enxuto.
Elias é o Profeta das águas; João avoluma as águas do Jordão com a multidão que ouve a sua VOZ; Allan Kardec faz manar do coração, dos rins e do ventre dos que buscam a Jesus Cristo, rios de água viva, desvendando os arcanos do Espírito da Profecia; mas quem batiza com o Espírito do Pai é Aquele que É sobre todos!
Elias apelou para as águas e para o fogo; João para a água e para o sofrimento; Allan Kardec para o sentimento e para a razão, mas os três são um mesmo Espírito.
Um fere e castiga, outro corrige e ensina, o último vivifica e salva!”2
Inequivocamente, Cairbar volta a afirmar, mais uma vez, que as três personalidades são a mesma individualidade: Allan Kardec.
Uns poucos anos após, em 1936, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito de Humberto de Campos, podemos encontrar belíssimo paralelo entre à missão de João Batista e a de Léon Rivail, quanto a serem precursores das duas últimas revelações: a Boa Nova, trazida por Jesus Cristo, e o Consolador Prometido, através da pena e da palavra de Allan Kardec, sob a coordenação do Espírito de Verdade.
“Quando Jesus desceu um dia à Terra para oferecer às criaturas a dádiva da sua vida e do seu amor, seus passos foram precedidos pelos de João Batista, que aceitara a dolorosa tarefa de precursor, experimentando todos os martírios no deserto. O Consolador prometido à Terra pelo coração misericordioso do Divino Mestre, e que é o Espiritismo, teve o sacrifício de Allan Kardec – o precursor da sua gloriosa disseminação no peito atormentado das criaturas humanas. Seu retiro não foi a terra brava e estéril da Judéia, mas o deserto de sentimentos das cidades tumultuosas; no burburinho das atividades dos homens, no turbilhão das suas lutas, ele experimentou na alma, muitas vezes, o fel do apodo e do insulto dos malevolentes e dos ingratos. Mas, sua obra aí ficou como o roteiro maravilhoso do país abençoado da redenção.”3
Humberto de Campo não afirma que sim e nem que não; mas, achamos interessante o paralelo, por isso, decidimos capturar a passagem para deliciar nosso prestigioso amigo que nos acompanha na leitura destas despretensiosas linhas.
Permanece ainda uma ponta de dúvida? Não sei quanto a vocês, mas, não de nossa parte; pois, pelo pouco que aprendemos sobre o caráter de Cairbar, este não teria, inocente ou irresponsavelmente, lançado tal assertiva, sem poder contar com a certeza do que estava dizendo…
Fiquem em Paz!

1 SCHUTEL, Cairbar. A missão Kardecista. O espírito do método, o bom senso encarnado. 30 de setembro de 1922. Matão: O Clarim, julho de 2013.
2 SCHUTEL, Cairbar. Parábolas e Ensinos de Jesus. Cap. 14. O Maior Profeta.
3 XAVIER, Francisco Cândido. Crônicas de além-túmulo. Pelo Espírito Humberto de Campos. Cap. 21. O grande missionário.

2 comentários em “Elias, João Batista e Kardec. Os três são o mesmo Espírito?

  • 7 de março de 2023 em 09:18
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    De fato, esta revelação de que Kardec era a reencarnação de Elias e Joao Batista está claramente revelada (para aqueles que tem olhos de ver e bagagem de conhecimento das profecias contidas nas antigas escrituras judaico-cristão, digo, Malaquias e evangelhos) principalmente na Revista Espírita de 1868 quando a espiritualidade falava da vinda do novo messias. Basta juntar os pontos de informação. Para maiores esclarecimentos, sugiro a leitura do livro TRÊS HOMENS, APENAS UM ESPÍRITO: UMA VISÃO ESPÍRITA DA MISSÃO DO NOVO MESSIAS.

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