O ponto de vista

[Fabio Dionisi] fabio@editoradionisi.com.br

Um fato que intriga a muitos é o porquê o homem erra tanto, causando tanta infelicidade e dor, se, por um princípio de sua natureza, sempre busca o melhor para si.
Sabemos que, como acabamos de afirmar, o homem sempre procura o melhor. Também, não é difícil comprovar que, salvo coação e imaturidade psicológica, suas ações são sempre norteadas de acordo com seus pontos de vista.
Assim agindo, em pleno exercício de seu livre arbítrio, procurando diferenciar o que é bom do ruim, o certo do errado, o verdadeiro do falso, o conveniente do impróprio, o ser humano faz suas escolhas; portanto, a partir de suas opiniões a respeito das coisas, fatos ou pessoas. Opiniões estas que estão impregnadas com seus valores e crenças, e decorrem, na maioria das vezes, apenas de suas percepções sensoriais; quando, na verdade, a razão deveria também se fazer presente.
Nesta procura, incessante, às vezes acerta e às vezes erra.
Como aprendemos, através da Doutrina Espírita, que se o mesmo toma más decisões, pratica-o por ignorância, podemos concluir que o mal (erro) é sempre uma consequência da falta de conhecimento. Quem realmente sabe, não erra.
A bem dizer, este conceito não é novo. Sócrates já o declarou, pois ele acreditava que conhecendo a coisa certa, a pessoa a faria. Logo, o bem tem estreita ligação com o conhecimento; e o mal está vinculado, portanto, com a ignorância. “Ninguém faz o mal por querer”, disse Sócrates de Atenas.(1)
Para detalhar, um pouco mais, o pensamento deste que é considerado, inclusive por Kardec, como um dos precursores do Cristianismo e do Espiritismo, extraímos, do livro de Marilena Chauí (2), as seguintes informações: “A interioridade da verdade tem uma consequência ética imediata: se nossa razão, isto é, nossa alma tem o poder para encontrar em si mesma suas próprias regras e normas de pensamento, terá o mesmo poder para nos dar as regras e normas de conduta e para educar nosso caráter para a virtude. A autonomia moral ou ética é a consequência necessária da força inata da razão. Compreendemos, então, por que Sócrates declara que somente o ignorante pratica o vício, pois aquele que conhece a verdade ou a virtude não deixará de praticá-la, uma vez que ela nasce em sua própria alma racional.”
Aproveitando a transcrição, também gostaríamos de ressaltar que suas últimas palavras, uma vez que ela nasce em sua própria alma racional, merecem nossa atenção; por também estarem concordantes com a Doutrina Espírita, dado que esta nos ensina que, por ocasião da nossa criação, Deus depositou os germens do amor e da consciência; para que os desenvolvêssemos através do nosso esforço, e, desta forma, um dia merecêssemos os Reinos dos Céus. Germens, estes, que crescem com o desenvolvimento da inteligência e da moral.
Além destes, as Leis de Deus também foram depositadas em nossa consciência, como afirmaram os Espíritos de Escol que responderam à pergunta 621, formulada por Kardec: “Onde está escrita a lei de Deus?” Resposta: “Na consciência.” (3) Cuja resposta, J. Herculano Pires, numa nota de rodapé, referente à mesma questão, complementa: “Essa ideia de Deus é inata no homem e o impele à perfeição. (…) Ela decorre do principio da reencarnação, que foi provada pelo Espiritismo através de pesquisas. (…) A Lei de Deus está escrita na consciência do homem, como a assinatura do artista na sua obra.” (3)
Posto isso, torna-se óbvio, que a única pergunta de real valor, que a humanidade deveria estar se fazendo, seria: como achar esta verdade (conhecimento)? Pois, pelo que nos parece, é exatamente este encontro que está faltando para o Homem viver no Bem.
Segundo Sócrates, a maneira de alcançá-la, e praticá-la, consiste no uso da razão; isto é, a partir da capacidade de pensar.
“Sócrates e Platão insistiam: a opinião (…) não é suficiente, ela é inútil a não ser que se torne conhecimento seguro por meio do escrutínio da razão.” (3)
Como a capacidade humana de reflexão (pensar) é proporcional à sua inteligência, e como esta última cresce, gradualmente, à medida que o ser evolui, podemos afirmar que sua aptidão para identificar a verdade (ou a virtude) se expande com seu progresso intelectual e moral.
“Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal? Resposta: Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu inteligência para distinguir um do outro.” (3)
Concluído este raciocínio, precisamos passar para o seguinte.
Outra característica do ser humano é sacrificar um bem presente, se antevê, lá na frente, algo melhor. Como já o dissemos, este é capaz de fazer escolhas.
Contudo, e é uma constatação também, tem uma dificuldade para lidar com a questão do tempo e espaço, pois sua capacidade de esperar, pelo bem melhor, é diretamente proporcional ao tamanho do prêmio. Para aguardar uma próxima reencarnação, ou mesmo algumas décadas de sacrifício, tem que realmente valer a pena… Caso contrário, ele permanece no “aqui e agora”. Sua decisão sempre resulta de uma avaliação de custo-benefício; se o retorno é alto, aceita o custo, caso contrário, não.
Mas, como saber o que o aguarda no futuro, se é bom ou ruim, se vale o esforço ou não, se, em geral, desconhece seu destino?
Felizes são os que aceitam e estudam a Codificação!
Aliás, não é a toa que o Espírito de Verdade enfatizou que nos instruíssemos: “Espíritas! Amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo”. (4)
Quanto mais se inteirar, através dela, sobre o futuro de felicidade (“instruí-vos”) que o aguarda, se praticar o bem (“amai-vos”), mais o homem encontrará motivadores para perseguir objetivos mais saudáveis.
Definitivamente, o Espiritismo, para quem o estuda em profundidade, é o caminho; pois é a única doutrina que, racionalmente e de forma mais completa, explica sobre a vida futura. Desvendando o mistério da vida pós-morte corporal, dando ciência sobre a imortalidade da alma, a pluralidade das existências e dos mundos, as Leis Divinas, a progressão a mundos melhores na medida em que o indivíduo evolui, capacita-o a ter mais discernimento em suas escolhas; minimizando erros e proporcionando uma direção segura para um exercício adequado do seu livre arbítrio.
Como sempre, caridoso leitor, chega a hora do nosso “adeus”; mas, numa tentativa de estender nossa interação, deixo uma reflexão para todos nós: sobre a importância da divulgação do Espiritismo, para criarmos um mundo melhor…
Grato a todos vocês!

1 RAEPER, William; SMITH, Linda. Introdução ao estudo das idéias: religião e filosofia no passado e no presente. Parte 1, item 1.
2 CHAUI, Marilena. Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. Volume 1.
3 KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. Livro terceiro; Das Leis Morais. Conhecimento da Lei Natural. Questões 621 e 631.
4 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Cap. VI. O Cristo Consolador, item 5.

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