Fraternidade x Egoísmo
[Simone Biaseto de Oliveira] monibiaseto@gmail.com
“Os homens, quando se houverem despojado do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, sem se fazerem mal algum, auxiliando-se reciprocamente, impelidos pelo sentimento mútuo da solidariedade. Então, o forte será o amparo e não o opressor do fraco e não mais serão vistos homens a quem falte o indispensável, porque todos praticarão a lei de justiça. Esse o reinado do bem, que os Espíritos estão incumbidos de preparar.” [1]
Kardec, em Obra Póstumas, afirma que a fraternidade resume todos os deveres do homem para com os seus semelhantes, tais como, a indulgência, a tolerância, a benevolência; a colocando como aplicação da máxima: fazer aos outros o que queremos que os outros nos façam. Sendo que sua concretização encontra o óbice no maior vício da humanidade: o egoísmo. Pois, como diz o mestre, enquanto o lema da fraternidade é um por todos e todos por um, o do egoísmo é cada um por si.
Olhando o significado dessas palavras no dicionário, vemos mais exacerbado o antagonismo entre elas e as ideias que delas advêm. Pois, enquanto fraternidade é entendida como união, afeto de irmão para irmão, afeto por quem não se conhece, amor ao próximo; egoísmo é falta de altruísmo, apego excessivo aos próprios interesses, presunção, tendência a excluir os outros, tornando-se a única referência sobre tudo.
Encontramos o ideal de fraternidade entre os povos presente em diversos preceitos, tais como no art. 1º da Declaração Universal dos Direitos da Humanidade:” Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade“(grifo nosso). E em nossa própria Constituição, no preâmbulo:
“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.” (grifo nosso)
Mas, apesar do ideal fraterno estar presente fartamente em nossa sociedade atual (podíamos gastar livros citando, desde tratados, constituições diversas, escritos religiosos e até campanhas e revoluções nele baseadas), estamos distantes desse ideal. A princípio, pelo exposto e pelo conhecimento histórico e particular de cada um, sabemos que não nos falta o conhecimento de sua importância. Inclusive, para nós espíritas, a responsabilidade é ainda maior (não sei se posso ou devo me expressar assim, mas…), pois a doutrina é quase exaustiva na importância dessa prática, somando a isso o fato de ser condição para o nosso abençoado planeta Terra transformar-se em um mundo de Regeneração. Como disse Emmanuel “Expulsai da Terra o egoísmo para que ela possa subir na escala dos mundos, porquanto já é tempo de a Humanidade envergar sua veste viril, para o que cumpre que primeiramente o expilais dos vossos corações”[2].
Sendo assim, o que fazer?
Como disse Kardec[3], é preciso combater o egoísmo como se combate uma doença epidêmica. Ou seja, procurar a causa, por meio de uma análise de todo o organismo social, desde a família até as nações, em todas as classes, etnias e credos, avaliando com senso crítico, sem se deixar levar pelo marketing oculto que determina um comportamento social doentio, e sem esquecer-se da autoanálise. À medida que a fonte é descoberta, o remédio se mostrará: a educação. Não a dos bancos escolares, mas a que desperta o indivíduo para o bem, para o exercício da fraternidade, para a compreensão da irmandade universal.
Educar e educar-se, em qualquer lugar, em todos os momentos. Como se assistíssemos a um filme, no qual atuamos. Como estou me comportando no trânsito, por exemplo? Penso que as ruas e avenidas foram feitas única e exclusivamente para minha ilustre pessoa circular com meu automóvel, ultrapassando irresponsavelmente aqueles que ousam se colocar a minha frente ou que insistem em respeitar os sinais de trânsito e os limites de velocidade, ou dirijo exercitando o dever de cuidado, zelando pela minha própria segurança e pela dos demais motoristas e pedestres, com plena consciência que é direito de todos legalmente habilitados utilizarem-se das vias públicas? Como estou me comportando no Templo religioso, no Centro Espírita? Penso ser mais importante que os demais companheiros de crença e os trato como auxiliares supérfluos ou tenho consciência da importância de cada elo na corrente do bem? Como me comporto em casa, sou autoritário e manipulador dos sentimentos daqueles que me amam e até uso da violência para me impor ou procuro dialogar com respeito e amor procurando entender os anseios da família? Os questionamentos são diversos, o importante é usarmos de sinceridade para conosco mesmos ao elaborarmos as respostas. Assim, identificaremos as raízes do egoísmo em nós e na sociedade, e teremos como trabalhar a cura individual e coletiva.
Pois, quando a humanidade terrena compreender que
“(…) no egoísmo reside uma dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, que a cada momento o magoam, a que perturba todas as relações sociais, provoca as dissensões, aniquila a confiança, a que o obriga a se manter constantemente na defensiva contra o seu vizinho, enfim a que do amigo faz inimigo, ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua felicidade e, podemos mesmo acrescentar, com a sua própria segurança. E quanto mais haja sofrido por efeito desse vício, mais sentirá a necessidade de combatê-lo, como se combatem a peste, os animais nocivos e todos os outros flagelos.” [4]
Estará pronta para viver em uma sociedade fraterna, para a transformação do Planeta Terra em Mundo de Regeneração, para a felicidade neste e em outros mundos.
Que assim seja…
[1] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução: Salvador Gentile. 123ª ed. Araras: IDE, 1974, pg. 352.
[2] Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução: Herculano Pires. 54ª ed. São Paulo: LAKE, 1999, pg. 152.
[3] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução: Salvador Gentile. 123ª ed. Araras: IDE, 1974, Cap. XII.
[4] Idem, pg. 354.
Bom dia.
Excelente texto.
É exatamente tudo isso que precisamos realizar.
Que Deus nos ampare.