Os falsos profetas
[Jose Dutra] dutra2507@hotmail.com
1) O que é um profeta?
Há várias definições:
a) Pessoa que tem o dom de anunciar ou interpretar uma mensagem divina;
b) Pessoa que tem o dom de revelar o futuro; neste sentido, a palavra profeta tornou-se sinônimo de vidente ou adivinho;
c) Título dado a Maomé pelos muçulmanos;
d) No sentido evangélico, profeta é todo enviado de Deus com a missão de instruir a humanidade e revelar as coisas da vida espiritual.
2) O que são os falsos profetas?
São aqueles que exploram certos dons ou conhecimentos que possuem, para conseguirem o prestígio de um poder supostamente sobre-humano ou de uma pretensa missão divina.
Alguns falsos profetas até agem de boa-fé, porque se autossugestionam e eles mesmos acreditam que são missionários de Deus. Mas a grande maioria age por má-fé, sabendo que estão enganando aqueles que os ouvem.
No Antigo Testamento, da Bíblia, em Jeremias 23:16-32, já havia o alerta contra os falsos profetas: “Não ouçais as palavras dos profetas que vos profetizam; enganam-vos, relatam-vos visões de seu coração, não da boca de Jeová. (…) Eu ouvi o que dizem os profetas que profetizaram mentiras em meu nome.” Já naquela época os charlatães abusavam da fé simples e quase cega do povo, predizendo, por dinheiro, coisas agradáveis.
Jesus também nos alertou contra os falsos profetas. Em Mateus 24:4-5, diz: “Atenção para que ninguém vos engane. Pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘O Cristo sou eu’, e enganarão a muitos.” Mais adiante, em Mateus 24:11, Jesus reafirma: “E surgirão falsos profetas e enganarão a muitos.” E, de forma semelhante, também nos previne contra os falsos profetas em Mateus 7:15 e 24:24-25 e Marcos 13:5-6 e 22.
Em Atos 8:9-24, o mago Simão, que era um falso profeta, ao presenciar a atuação dos apóstolos, ofereceu-lhes dinheiro, na tentativa de comprar seus poderes. O apóstolo Pedro, porém, rejeitou o pedido de Simão. Este ato do mago Simão originou o termo simonia, que significa compra ou venda de bens espirituais.
Em Atos 13:4-12, a Bíblia também relata o caso do mago e falso profeta Elimas, também chamado Barjesus, que tentou afastar o procônsul romano Sérgio Paulo dos ensinamentos evangélicos de Paulo de Tarso e Barnabé. A infeliz tentativa foi reprimida por Paulo de Tarso.
E Kardec ensina que, “se há verdadeiros profetas, há também os falsos, e ainda em maior número, que tomam os devaneios da própria imaginação por revelações, quando não se trata de mistificadores que o fazem por ambição”. (O livro dos médiuns, parte II, cap. XVI, item 190)
3) Por que os falsos profetas encontram público?
Em primeiro lugar, devido a ignorância e fé cega das pessoas. Para aquele que não tem o devido conhecimento, todo fenômeno cuja causa é desconhecida passa por sobrenatural e miraculoso.
Entretanto, conhecida a causa, reconhece-se que o fenômeno, por mais extraordinário que pareça, é apenas a aplicação de uma determinada lei da Natureza, seja do mundo material ou do mundo espiritual. Por isso, à medida que o conhecimento do homem avança, o número de falsos profetas diminui.
Em segundo lugar, os falsos profetas se aproveitam de nossas imperfeições morais. Todos somos tentados segundo a espécie de nossas imperfeições.
Ninguém desperta a fome de um cavalo com um prato de pérolas, mas sim com um bocado de capim ou milho, porque é disso que ele gosta. Da mesma forma, os falsos profetas encontram público nas pessoas que gostam do que ouvem. Por exemplo, o orgulhoso acredita naqueles que despertam sua vaidade, e o sedento de posse aceita as sugestões que estimulam sua cobiça.
4) Existem falsos profetas no mundo espiritual?
Sim. São os espíritos enganadores, hipócritas, orgulhosos, vaidosos e pseudossábios.
Alguns julgam saber mais do que realmente sabem, conservando os preconceitos e ideias errôneas que tinham quando encarnados, e continuam determinados em defender seus pontos de vista.
Outros são espíritos sedentos de poder, que, quando encarnados, tendo sido dominadores no lar ou na vida pública, ainda querem assim proceder depois da morte.
Outros, ainda, são maldosos ou pertencem a organizações tenebrosas, e querem simplesmente lutar contra o bem.
É conveniente notar que os falsos profetas desencarnados são mais perigosos que os encarnados.
5) Por que os falsos profetas desencarnados são mais perigosos?
Porque eles têm mais facilidade de induzir as pessoas a aceitar suas ideias errôneas. Geralmente são ávidos por poder e se disfarçam com nomes respeitáveis. Muitos já se apresentaram como Pedro, Maria, Jesus, e até mesmo como Deus.
Fingindo amor e caridade, semeiam a desunião e a discórdia. Através de ideias absurdas, retardam o desenvolvimento da humanidade.
Os falsos profetas desencarnados se comprazem em enganar, quando encontram oportunidade, o que acontece com aqueles que não tomam as devidas precauções.
Essa influência negativa é um dos maiores obstáculos, sobretudo entre os novatos no Espiritismo. Por isso, é essencial aprender a distinguir os bons dos maus espíritos, para não nos tornarmos nós mesmos em falsos profetas.
6) Como podemos identificar os verdadeiros e os falsos profetas?
Vejamos o que dizem Jesus, o apóstolo João e o espírito Erasto, discípulo de Paulo de Tarso:
“Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos os reconhecereis. Por acaso colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos cardos? Do mesmo modo, toda árvore boa dá bons frutos, mas a árvore má dá frutos ruins. Uma árvore boa não pode dar frutos ruins, nem uma árvore má dar bons frutos. Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. É pelos seus frutos, portanto, que os reconhecereis.” (Cardo é uma planta daninha, que possui espinhos) (Mt, 7:15-20)
“Ou declarais que a árvore é boa e o seu fruto é bom, ou declarais que a árvore é má e o seu fruto é mau. É pelo fruto que se conhece a árvore. Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, se sois maus? Porque a boca fala daquilo que o coração está cheio. O homem bom, do seu bom tesouro tira coisas boas, mas o homem mau, do seu mau te-souro tira coisas más.” (Mt, 12:33-35; Esta passagem, de forma semelhante, também está em Lucas 6:43-45; Ao usar o termo “raça de víboras”, Jesus estava se referindo aos fariseus e escribas.)
“Amados, não acrediteis em qualquer espírito, mas examinai os espíritos para ver se são de Deus, pois muitos falsos profetas vieram ao mundo.” (1 Jo, 4:1)
“Passai os seus sistemas pelo crivo da razão e do bom senso.” (Erasto – O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXI, it.10)Vemos então que, conforme ensina Jesus, podemos avaliar a árvore pela qualidade de seus frutos. Se o fruto é bom, a árvore é boa, mas se o fruto é ruim, a árvore é má. Da mesma forma, podemos avaliar o profeta pela qualidade de sua obras, de seus atos e de sua conduta.
Jesus também ensina que a boca fala daquilo que o coração está cheio. Portanto, podemos também avaliar o profeta pela qualidade da sua linguagem.
E João e Erasto ensinam que devemos sempre examinar a mensagem do espírito.
Resumindo, podemos identificar os verdadeiros e os falsos profetas pelas suas obras e pela sua linguagem.
Os falsos profetas:
a) São espíritos inferiores ou pseudossábios;
b) Sua linguagem é sempre algum reflexo das paixões humanas. Toda expressão que revele baixeza, arrogância, fanfarronice ou sarcasmo, é sinal característico de inferioridade;
c) São levados pelo fanatismo, pela intolerância, pelas ideias fantasiosas, e pela falta de lógica e bom senso;
d) Seus ensinamentos produzem a discórdia, a divisão e o isolamento;
e) Colocam o intelecto acima da caridade e da humildade;
f) Pretendem ser donos da verdade, e indicam, como remédio para os males da humanidade ou como meios de realizar o seu progresso, medidas fantasiosas e impraticáveis, pueris e ridículas, ou sistemas que contradizem as mais básicas noções científicas;
g) Contradizem os ensinamentos evangélicos, com interpretações literais ou pessoais, e fazem predições com datas marcadas.
Os verdadeiros profetas:
a) São espíritos bons e já bastante avançados, que fizeram suas provas em outras existências. Podemos reconhecê-los pelas suas virtudes e pela influência moralizadora de seus atos. Deus não se serve da boca do mentiroso para ensinar a verdade;
b) Possuem as virtudes cristãs e eternas: a caridade, o amor, a indulgência, a bondade, etc.;
c) Confirmam suas palavras com seus atos, porque, além de trazer sua mensagem, dão o exemplo do que falam, da mesma forma que Jesus demonstrou na prática todos os seus ensinamentos;
d) Sua linguagem é sempre digna, elevada, nobre, sem qualquer mistura de vulgaridade;
e) A exemplo de Cristo, são sempre brandos e humildes de coração;
f) Só ensinam o bem, e todo ensinamento é coerente com o Evangelho;
g) Só dão conselhos perfeitamente racionais, dentro do bom senso, coerentes com os fatos científicos, e de acordo com as leis imutáveis da Natureza, tanto as leis do mundo material como do espiritual.
Finalmente, é importante notar que, antes de julgar os espíritos ou as pessoas, é preciso aprender a julgar a si mesmo. Ninguém tem a medida exclusiva do bem e do mal, do verdadeiro e do falso. Por isso, devemos estudar constantemente e trocar ideias com outras pessoas.
7) Qual o tipo mais perfeito de profeta que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo?
Jesus. Seus ensinamentos e sua conduta são o melhor modelo que temos de perfeição moral.
Bibliografia
- Allan Kardec – O livro dos espíritos, Q. 96 a 113, 624 e 625.
- Allan Kardec – O livro dos médiuns, segunda parte, capítulo XVI, item 190; cap. XXIV.
- Allan Kardec – O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo I, item 9; cap. XXI.
- Allan Kardec – Obras póstumas, primeira parte, Manifestações dos espíritos, parte VI, item 49.
- Emmanuel – Religião dos espíritos, cap. 22 – Ante falsos profetas.
- Therezinha Oliveira – Na luz da mediunidade, cap. 4 – Falsos profetas.