A Escada de Jacó

[Fabio A. R. Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br

Encontrava-me, hoje, pensando sobre os mundos inferiores e os superiores. Deparei-me, de repente, com uma reflexão: por que consideramos, quase sempre, tão negativo será Terra considerada um Mundo Inferior? Temos o hábito de nos fustigar por ainda nos encontrarmos tão atrasados. Estamos sempre a nos julgarmos seres inferiores, culpados por nos encontrarmos nesta situação; quando, na verdade, não nos deveríamos autoflagelarmos em função da nossa posição na escala evolutiva. Certamente, devemos reprovar nosso comportamento quando não estamos empreendendo os esforços necessários para evoluirmos; mas, nunca nos desvalorizarmos por nos encontrarmos na infância da humanidade…
Por que? A “Escada de Jacó” é uma resposta… “Tendo chegado [Jacó] a certo lugar, ali passou a noite, pois já era sol-posto; tomou uma das pedras do lugar, fê-la seu travesseiro e se deitou ali mesmo para dormir. E sonhou: Eis posta na terra uma escada cujo topo atingia o céu; e os anjos de Deus subiam e desciam por ela (Gênesis 28:11-12)”.
Qual é o simbolismo da Escada de Jacó? Muitos. E, um deles é o de nos mostrar que só chegaremos à morada dos Céus se galgarmos, degrau por degrau, a escada da evolução.
Representa o caminho para a perfeição. Iniciamos esta jornada subindo o primeiro degrau, ascendendo a aperfeiçoamento moral.
Outra forma de interpretá-lo é o de que cada degrau representa uma das muitas moradas do Pai: “Não se turbe o vosso coração (…). Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. – Depois (…), voltarei e vos retirarei para mim (…)”. (João, 14:1 a 3)
Com o advento do Espiritismo, a citação do Nosso Senhor Jesus Cristo, “a casa de meu Pai tem muitas moradas”, adquiriu o entendimento de que carecia nos tempos da Boa Nova; pois, esclareceu-nos que as criaturas se situam nos muitos locais (Mundos) que compõe o Universo, de acordo com seu progresso realizado.
A marcha da ascensão, portanto, é fato natural na vida.
Nada, no princípio, está pronto; há tudo por fazer. Deus assim o quis, para o nosso bem. É condição necessária que evoluamos, através das dificuldades que o mundo material nos impõe.
De fato, encontramos na questão 115 de O Livro dos Espíritos 1: “Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento (…)”,
Para isso, Deus idealizou a Lei do Trabalho; uma das Leis Divinas. Exatamente, para que o homem seja impelido a lutar pela sua sobrevivência física, bem como buscar condições melhores de vida, quer materiais, quer espirituais. Numa contínua adequação do seu relacionamento com o meio e para com o próximo. Mola propulsora, portanto, do seu progresso intelectual e moral.
Agora, na questão 676, formulada por Kardec, encontramos a confirmação: “Por que o trabalho se impõe ao homem? — Por ser uma consequência da sua natureza corpórea. (…) meio de aperfeiçoamento da sua inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria sempre na infância, quanto à inteligência. Por isso é que seu alimento, sua segurança e seu bem-estar dependem do seu trabalho e da sua atividade (…).”
Adicionaríamos que, por causa da necessidade do trabalho, o homem é obrigado a se relacionar com o próximo; e, como fruto desta interação, melhora moralmente, desenvolvendo suas virtudes.
Há mérito onde há esforço…
O ser conquista, portanto, novos patamares de inteligência e virtudes à medida que trabalha por melhores condições.
E, como dissemos acima, Deus não nos fez prontos. Deu-nos, porém, as ferramentas para que pudéssemos atingir à perfeição; mas, deixou que a obra fosse nossa… E, ela é intransferível!
Fomos criados simples e sem conhecimentos; para, por esforço próprio, adquirirmos sabedoria e virtude (Deus é sábio…); para, por merecimento próprio, atingirmos o Reino de Deus (O Pai é justo…); onde encontraremos as alegrias destinadas aos que “combateram o bom combate”, como nas palavras de Paulo de Tarso (Deus é Amor…).
Quem trabalha mais, mais prontamente atinge seus objetivos.
Além disso, é importante nos conscientizarmos que o estágio em que um dado Mundo se encontra é reflexo dos seres que nele habitam; e, não o contrário.
Não há demérito, portanto, estarmos ainda em um Mundo tão atrasado. Tudo a seu tempo. É necessário que sejamos crianças para que possamos nos tornar adultos um dia…
O problema é quando não seguimos o curso natural das coisas; pois, o progresso também é uma das Leis de Deus; e, como todas as Leis Divinas, precisamos nos ajustar às suas diretrizes…
“O estado de natureza é a infância da Humanidade e o ponto de partida do seu desenvolvimento intelectual e moral. Sendo perfectível e trazendo em si o gérmen do seu aperfeiçoamento, o homem não foi destinado a viver perpetuamente no estado de natureza, como não o foi a viver eternamente na infância. Aquele estado é transitório para o homem, que dele sai por virtude do progresso e da civilização (…)”. (Nota à Q. 776) 1
Quem faz a vontade do Pai, segue em frente. Quem não a faz, encontrar-se-á com o aguilhão da dor; necessária e utilíssima, para que não nos acomodemos no caminho… Afinal, Deus está a nos esperar em seu Reino!
Léon Denis, em seu magistral livro “O problema do ser, do destino e da dor”, corrobora Kardec, de forma inequivocável:
“Acima de tudo, Deus é amor. Por amor, criou os seres para associá-los às suas alegrias, à sua obra. O amor é um sacrifício; Deus hauriu [retirou] Nele a vida para dá-la às almas. Ao mesmo tempo em que [as almas] receberiam a efusão vital [necessária para a vida do Espírito], elas receberiam o princípio afetivo [germe do amor] destinado a germinar e expandir-se pela provação dos séculos, até que tenham aprendido a dar-se por sua vez, isto é, a dedicar-se, a sacrificar-se pelas outras. Com este sacrifício, em vez de se amesquinharem, mais se engrandecem, enobrecem e aproximam do Foco Supremo”. 2
Mas não se iluda, caro leitor, com nossas considerações… Não podemos relaxar e deixar que o tempo faça sozinho seu trabalho… É mandatório nos empenharmos, por motivos óbvios, para sair da roda de sofrimentos e dificuldades; pois, se não fizermos nosso trabalho por bem, seremos visitados pela dor; o melhor instrumento, – remédio amargo -, para nos expulsar da “zona de conforto”… Saiamos desta, portanto, o mais rapidamente possível.
Se é verdade que seremos compelidos, de qualquer forma, a galgar, degrau por degrau, nossa Escada de Jacó, a velocidade com que o fizermos dependerá só de nós…
E como se acelera? Através da reforma íntima; buscando, dentro de nós, as áreas que necessitam de melhoria. E, empreendê-las. Lembrando, sempre, que servir ao próximo é o melhor meio de aperfeiçoamento conhecido.
Um amigo espiritual disse-nos certa vez: “Somos todos espíritos trilhando a caminhada. Estamos no começo, no 1º degrau da escada; mas, temos irmãos que já estão no 2º degrau, e, não muito raro, nos estendem as mãos, nos auxiliando para que alcancemos o degrau 2. Mas, quando isto ocorre, o irmão que nos estendeu as mãos já estará no 3º degrau…”. (Dr. Xavier. Mensagem mediúnica. Médium Edson Barbosa de Souza. C. E. Allan Kardec, de Mauá – SP, em 15.05.2010)
Servir exercita a paciência, a tolerância, a compreensão, a renúncia e a resignação; e, assim por diante… Facultando-nos a aquisição das necessárias virtudes.
Da mesma forma, o servir desenvolve a inteligência, através do trabalho que nos impõem…
Conseguiremos, desta forma, trabalhar nos dois fronts necessários à conquista do Reino dos Céus, através das duas asas indispensáveis ao voo com destino aos Mundos Perfeitos: a do Amor e a da Sabedoria.


1 Op. cit. 49. ed. São Paulo: LAKE, 1989.
2 Op. cit. 15. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1989. pág. 363.

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