O Espírita Monteiro Lobato
[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br
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No último 04 de julho comemorou-se mais um aniversário do desencarne de José Bento Monteiro Lobato. Quando, aos 66 anos de idade, diríamos de forma prematura, transferiu-se da cidade de São Paulo para a pátria espiritual, no ano de 1948.
Lobato nasceu em Taubaté, no dia 18 de abril de 1882; curiosamente, no mesmo dia e mês da publicação da primeira versão de O Livro dos Espíritos, ocorrida 25 anos antes, em 1857.
Passou sua infância nesta cidade, porém, após seus primeiros estudos, na adolescência, mudou para São Paulo, para estudar no Instituto de Ciências e Letras e, mais tarde, na Faculdade de Direito, onde se formou no ano de 1904. 1
Em março de 1908 casou-se com Maria Pureza da Natividade de Souza e Castro, conhecida como D. Purezinha, com quem teve quatro filhos.
Em maio de 1907, com apenas 25 anos de idade, foi nomeado promotor público em Areias, no mesmo ano de seu casamento.
Como autor de livros, como é mais conhecido pelo público brasileiro, foi fecundo escritor. Mais reconhecido pelas obras no segmento infantil e juvenil, embora tenha jornadeado, com a mesma maestria, em vários outros gêneros.
O que poucos sabem é que foi um dos bandeirantes nacionais da área editorial. No ano de 1918, fundou a empresa Monteiro Lobato & Cia., depois Companhia Gráfica-Editora Monteiro Lobato. 1
Um tanto pelo pioneirismo, e outro tanto pelos tempos difíceis, sua editora foi à falência em 1924; mas, perseverante, com a venda de sua parte de uma casa de loterias, arrematou o espólio da massa falida de sua própria editora, fundando uma outra: a Companhia Editora Nacional. 1
Seu primeiro livro, Urupês, foi editado em 1918, e a partir daí escreveu dezenas de livros, célebres até os dias de hoje. Contudo, ficou popularmente conhecido pelas suas obras infantis, que constitui, aproximadamente, a metade da sua produção literária.
Entre suas obras para crianças, as mais famosas são: Caçadas de Pedrinho, O Saci, Reinações de Narizinho, e o clássico O Picapau Amarelo. Sucesso que ainda não faz jus à sua vasta obra literária. Tendo escrito dezenas de livros, cobriu muitos gêneros; entre outros, literatura infantil, juvenil, romance, contos, e, igualmente, sobre temas políticos e econômicos.
Foi adido comercial do Brasil em Nova Iorque onde se empolgou com o progresso; segundo ele, baseado em petróleo, ferro e estradas.
De regresso, lutou para que este modelo fosse adotado aqui, tanto que empreendeu várias campanhas, chegando a fundar a Companhia Petróleo do Brasil (1931).
Foi até preso por Getúlio Vargas, em 1941, por discordar da política adotada por este último, quanto ao petróleo.
Mas, nosso objetivo, nestas poucas linhas, não é exatamente biografá-lo, e sim mencionarmos um fato ainda pouco conhecido na lide Espírita.
“Todo mundo conheceu Monteiro Lobato sob vários aspectos: o amigo leal e incomparável, o contista primoroso, o ardoroso e cáustico polemista, o patriota ferrenho e implacável; mas, sob o prisma espiritualista, poucos, muito poucos o conhecem e até alguns duvidam dessa sua conversão ao Espiritualismo”, diria a principal revisora dos seus livros, Maria José, em sua obra Monteiro Lobato e o Espiritismo: as sessões Espíritas de Monteiro Lobato, publicada em 1971. 2
Curiosamente, o próprio Espírito de Monteiro Lobato, através do belíssimo dom mediúnico de Jorge Rizzini, escreveria um prefácio póstumo para esta obra…
De fato, ainda hoje, poucos sabem. Ele não apenas se tornou simpatizante do Espiritismo, como, também, assíduo praticante.
Nos últimos anos de existência, após convencer-se da imortalidade espiritual do homem e constatar que a comunicação com os ditos “mortos” era possível, realizou sessões entre 1943 e 1945, no Brasil, e, na Argentina, entre 1946 e 1947.
Esta conversão deu-se após receber mensagens de seis amigos, já desencarnados, numa sessão alfabética de copinho; isto é, numa mesa onde se colocavam as peças de um alfabeto na posição de uma circunferência e no centro um copo emborcado.
Em seu livro O Espírito e o Tempo 3, J. Herculano Pires relata que Monteiro Lobato se dedicou seriamente à estas sessões; tendo o cuidado de nos deixar descrições detalhada das mesmas; as quais foram publicadas pela sua amiga e secretária, Maria José Sette Ribas, como mencionamos há pouco. Ele também registrou que o conhecido escritor e articulista chegou a receber mensagens, usando este método, de seus dois filhos já desencarnados, e a realizar doutrinação e esclarecimento de espíritos moralmente atrasados. 3 (p. 203)
O processo usado não era dos mais fáceis, e, atualmente, é praticamente desconhecido; por isso, tomaremos algumas linhas para descrevê-lo.
Estas reuniões mediúnicas, chamadas de “sessões alfabéticas de copinho”, usavam um cálice pequeno, ou um copinho. O mesmo era emborcado sobre uma mesa lisa, e, conforme a preferência, sobre uma folha de cartolina. Ao derredor do cálice, na cartolina ou em torno da mesa, distribuía-se um alfabeto, em forma circular, permanecendo o copinho no centro deste círculo. Uma ou mais pessoas colocavam levemente um dedo sobre o copinho e este se movimentava indicando as letras que formariam as palavras e mensagens. A médium era a esposa de Monteiro Lobato, D. Purezinha, cujos olhos permaneciam vendados durante os trabalhos. Um dos participantes recebia a incumbência de anotar as letras indicadas pelo Espírito comunicante. Consta que o movimento do copinho atingia, geralmente, grande velocidade. As perguntas eram feitas oralmente, de acordo com a disciplina estabelecida pelo grupo. Meticuloso, Lobato fez questão de registrar suas experiências em atas, por ele mesmo lavradas.3 (p. 204)
Descrente de tudo, até os seus 61 anos de idade, no final de 1943, retornando para casa, encontrou sua família reunida fazendo este exercício.
Embora aquela atividade fosse comum em sua residência, nunca quisera tomar parte; mas, chegara o dia de sua conversão… O gatilho fora uma discussão tremenda com uma amiga, à tardinha, na Praça das Bandeiras, em que se irritou defendendo suas ideias materialistas. O estopim da contenda fora exatamente Maria José Sette Ribas, a mesma que se tornaria revisora exclusiva dos seus livros, ao ponto de Lobato tê-la chamada de Rainha da Revisão.
Mesmo sendo um materialista ferrenho, descrente da imortalidade da alma, e grande admirador do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, embora é mister registrar que tivesse muita ternura por Jesus Cristo, decidiu participar da sessão.
Tomando um bloco de papel, e um lápis, começou a fazer perguntas. Para sua surpresa, o primeiro a se apresentar, para responde-las, foi seu grande amigo, desencarnado há anos, Adalgiso Pereira, considerado um dos grandes na área da gramática brasileira. E, para aumentar a sua surpresa, bem como provar definitivamente a imortalidade da alma, a seguir, vieram outros cinco amigos: Manéco Lopes (carinhosamente apelidado de vovô do jornalismo), Amadeu Amaral, Arthur Neiva (o sábio), Martins Fontes (acredita-se que tenha sido ele) e outro cujo nome se perdeu.2 (p. XXIII)
Infelizmente, a única ata perdida foi desta primeira reunião…
E, daí, não parou mais com suas reuniões, conseguindo até comunicar-se com seus dois filhos homens, que haviam desencarnado muito cedo. Tornara-se como que um hobby, pois, desde que possível, realizava-as todas as noites. 2 (p. XXVI)
Outro benefício, haurido com sua conversão, foi a resignação diante dos inúmeros golpes que a vida lhe reservou. De revoltado contumaz, passou a aceita-los serenamente.
Desta forma, aqui deixamos nossas sinceras homenagens à José Bento Monteiro Lobato; numa singela pincelada sobre este grande brasileiro; mais um a quem o Brasil deve muito…
Fiquem em paz!
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1 Novíssima Enciclopédia Delta Larousse. Rio de Janeiro: Editora Delta S.A., 1982. Vol. 4
2 RIBAS, Maria José Sette Ribas. Monteiro Lobato e o Espiritismo: As sessões Espíritas de Monteiro Lobato. 1. ed. São Paulo: LAKE, 1972
3 PIRES, J. Herculano. O espírito e o tempo. Introdução antropológica ao Espiritismo. 8. ed. São Paulo: Paidéia, 2003