A homeopatia e os primeiros movimentos Espíritas no Brasil

[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br

Há algum tempo estávamos pesquisando sobre o início do Espiritismo aqui no Brasil quando constatamos a presença da homeopatia entre os primeiros brasileiros espiritualistas.

Indo mais longe, lendo Canuto Abreu 1 (p. 27-29), percebemos que não era a primeira vez que um historiador do Espiritismo Brasileiro correlacionava a homeopatia com o início deste, em nossas terras queridas.

Tanto que, Humberto de Campos, em seu livro Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho relata que: “as primeiras experiências espiritistas, na Pátria do Evangelho, começaram pelo problema das curas. Em 1818, já o Brasil possuía um grande círculo homeopático, sob a direção do mundo invisível. O próprio José Bonifácio se correspondia com Frederico Hahnemann.” 2 (p. 177)

A cura, realmente, faz parte de nossa história, desde os tempos em que se principiou o movimento de introdução do Espiritismo no Brasil. E acrescentaríamos que o Espiritismo foi bem recebido, de maneira geral, na sociedade, também graças à fase neo-espiritualista, advinda da presença de importantes homeopatas em terras brasilienses, durante a primeira metade do século XIX. Algumas práticas, adotadas por alguns médicos homeopatas, como o uso complementar dos passes, criaram uma predisposição à aceitação do Espiritismo. 3 128-129)

Pelo visto – arriscaríamos – o nosso querido país tem alguma importante missão, entre os povos deste globo, num porvir próximo, no campo da cura…

Prosseguindo com Canuto: “Esse ambiente era favorável às ideias Espíritas, que principiaram a irradiar, em 1848, da América do Norte. Não é para se estranhar, portanto, que os primeiros experimentadores das mesas girantes tivessem saído das fileiras hahnemannianas.” 1 (p. 29)

Vejamos o porquê dessa sua assertiva. Para isso, retornemos à sua narração.

“A esse núcleo de cientistas se deve, somos o primeiro talvez a afirmá-lo, o preparo do terreno, onde mais tarde seria lançada a semente do Espiritismo. Era o círculo homeopático.” 1 (p. 27)

A homeopatia entrou, pela primeira vez, no Brasil, em 1818, de acordo com informação registrada, também, pelo Dr. José Emygdio Rodrigues Galhardo (1876–1942), considerado o maior historiador da homeopatia brasileira, em seu livro História da homeopatia no Brasil; livro do “1º Congresso Brasileiro de Homeopatia (Rio de Janeiro, 1928)”.

Nesta época, José Bonifácio de Andrade e Silva, o Patriarca da Independência, já conhecia a teoria homeopática e se correspondia com Samuel Hahnemann.

Contudo, somente na década de 1840, surgem os primeiros registros oficiais de movimentos nesta área. Por exemplo, a do cidadão imigrado Frederico Emílio Jahn que, em 1836, defendeu a tese em Medicina sobre a proposta terapêutica de Hahnemann.

Mas, voltemos às considerações do Dr. Silvino Canuto Abreu. 1 (p. 27)

Segundo ele, a ponte, entre a homeopatia e o Espiritismo, teria sido construída por dois imigrantes homeopatas, que se transferiram para o Brasil: Benoit Jules Mure (Bento Mure) e João Vicente Martins.

Ambos também citados por Humberto de Campos, em Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho: “O grande movimento preparatório do Espiritismo em todo o mundo tinha no Brasil a sua repercussão, como era natural. Por volta de 1840, ao influxo das falanges de Ismael, chegavam dois médicos humanitários ao Brasil. Eram Bento Mure e Vicente Martins, que fariam da medicina homeopática verdadeiro apostolado. Muito antes da codificação kardequiana, conheciam ambos os transes mediúnicos e o elevado alcance da aplicação do magnetismo espiritual.” 1 (p. 181)

Por serem neo-espiritualistas, segundo Canuto, teriam criado as condições necessárias para o início do Espiritismo no Brasil.

O francês Bento Mure, como ficou conhecido entre nós, aportou no Rio de Janeiro no dia 21 de novembro de 1840 (data esta escolhida para a comemoração da homeopatia no Brasil…). Portador da mediunidade da clarividência, “ele se dava a transes mediúnicos.” 1 (p. 28)

E, João Vicente Martins, psicógrafo, proveniente de Portugal que, em 1848, “assumiu sozinho a direção da propaganda, atraindo grande número de adeptos para a Homeopatia” 1 (p. 28), após, no mesmo ano, Bento Mure deixar o Brasil.

“É ainda a Martins que devemos a introdução, em nosso país, das irmãs de caridade e dos princípios vicentinos (1843).” 1 (p. 28)

Ademais, já um prenúncio das práticas que o Espiritismo adotaria mais tarde, ambos [Mure e Martins] aplicavam passes aos doentes, em complementação aos tratamentos realizados. Segundo Canuto, “Hahnemann recomendava este processo auxiliar da Homeopatia.” 1 (p. 28)

Época em que começavam a aparecer as primeiras experiências das mesas girantes…

Esperamos ter sido úteis. Fiquem em paz.

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1 ABREU, Dr. Silvino Canuto. Bezerra de Menezes (subsídios para a História do Espiritismo no Brasil até o ano de 1895). 6. ed. São Paulo: Edições FEESP, 2001.

2 XAVIER, Francisco Cândido. Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho. Pelo Espírito de Humberto de Campos. 19. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1992. Capítulo 22. Bezerra de Menezes.3 DIONISI, Fabio. A História do Espiritismo: da França de Kardec ao Brasil de Chico. 1. ed. Ribeirão Pires: Editora Dionisi, 2013.

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Este artigo foi enviado à RIE / O Clarim, em 06 de agosto de 2022, para possível publicação.

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