A casa do caminho e a primeira igreja, a de Jerusalém

[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br

Em termos cronológicos, encontramo-nos entre 34 d.C. e princípios de 35 d.C.
A Casa do Caminho, onde também ficou estabelecida a primeira igreja de Jerusalém, foi criada pelos Apóstolos após a ascensão do Nosso Senhor Jesus Cristo, aos Mundos Superiores.
Após a sua crucificação, os quarenta dias em que ainda conviveu com seus discípulos fora de capital importância para restabelecer e fortalecer a fé, necessária para que eles tivessem forças e iniciassem seus ministérios, o da propagação da Boa Nova.
“Após quarenta dias de convivência espiritual com Jesus, a confiança voltava a reinar forte em seus corações.” 1 (p. 18)
Sem ela, provavelmente, o movimento teria esmorecido… Por isso, Jesus fez questão de permanecer, por um tempo, entre seus seguidores, antes de sua partida.
Após a sua despedida, no Monte das Oliveiras, presenciada por “alguns varões galileus” (Atos, 1:11), estes voltaram para Jerusalém.
Encontrando-se Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago (filho de Alfeu), Simão, o Zelote, Judas (filho de Tiago), Maria (a mãe do Mestre), e os irmãos de Jesus, todos a orar, encontravam-se na parte superior de uma casa, conhecida como cenáculo, na cidade de Jerusalém, onde, provavelmente, fora o local da última ceia.
Segundo Sergito de Souza Cavalcanti, esta primeira reunião, que ocorreu entre os discípulos, após a ascensão de Jesus, pode ter sido a primeira da Casa do Caminho. Além disso, teria sido Simão Pedro seu primeiro coordenador. 1 (p. 34)
Como os discípulos de Jesus logo adotaram o costume de se encontrar, próximos de Jerusalém, para pregarem e falarem, saudosamente, do Rabbi querido, foi natural que se formasse uma fraternidade que ficaria conhecida ao longo dos séculos, como tendo sido o primeiro núcleo, daqueles que eram conhecidos como “os do caminho”; daí, muito provavelmente, a denominação de Casa do Caminho…
“Reunidos oravam, cantavam, viviam e pregavam a Boa Nova. As orações eram poderosas, as reuniões se sucediam e o grupo crescia continuamente. Nascia assim a Casa do Caminho, marco primeiro daquela fase áurea do Cristianismo primevo.” 1 (p. 19)
A palavra “cristão” só surgiria mais tarde, por proposição do Evangelista Lucas, um médico caridoso, em Antióquia, uma grande cidade onde se estabeleceria a segunda Igreja.
Inicialmente eram conhecidos como os discípulos de Jesus. Depois passaram a se chamar de irmãos, e eram conhecidos como “os do caminho”.
Enfim, como resultado do amor que unia aquele grupo, e do desejo de vivificar a Boa Nova, foi natural que enveredassem para a ajuda ao próximo. Tanto que a Casa do Caminho se tornou escola, asilo, hospital, oficina de trabalho, local de oração e comunhão com o Cristo, enviado pelo Pai de todos nós.
“Aprenderam com Jesus que nada era mais importante do que o crescimento espiritual de seus membros. Usavam o trabalho assistencial de distribuição de alimentos, de remédios, de roupas e até mesmo os dons de cura como isca para alcançarem o objetivo maior a evangelização do assistido.” 1 (p. 42)
A medida que se tornava conhecida, e para ela os prosélitos se dirigiam, não só para serem atendidos, mas, igualmente, para compartilharem de sua atmosfera benéfica e elevada, os crentes iam aumentando, consolidando-se, assim, a primeira igreja de Jerusalém, a Casa do Caminho, marco indelével da fase áurea do Cristianismo dos primeiros tempos. 1 (p. 19)
Fato este também confirmado pelo Espírito de Emmanuel, em sua obra Paulo e Estêvão; que, em seu terceiro capítulo, confirma que a primeira Igreja foi constituída em Jerusalém, na Casa do Caminho, logo após o desencarne de Jesus.
“A casa dos apóstolos, em Jerusalém, apresentava um movimento de socorro aos necessitados cada vez maior (…). Acumulando as tarefas com ingente sacrifício, João e Pedro, com o concurso dos companheiros, haviam construído um pavilhão modesto, destinado aos serviços da igreja, cuja fundação iniciavam para difundir as mensagens da Boa Nova.” 2 (p. 67)
Ela continuaria a desempenhar seu papel principal de assistência aos necessitados, sob a coordenação de Simão Pedro, e anexo a ela, num pavilhão modesto e pobre, que não passava de um telheiro revestido de paredes frágeis, ficaria destinado aos serviços da Igreja de Jerusalém.
Quanto à igreja, tudo leva a crer que Tiago, chamado o Justo, teria sido o seu primeiro coordenador.
Sabemos que sua fundação ocorreu logo após os acontecimentos mediúnicos ocorridos no Dia de Pentecostes.
Ela foi a primeira das quatro sedes apostólicas do Cristianismo primitivo, juntamente com Roma, Antióquia e Alexandria. Posteriormente, seria adicionada uma quinta, a de Constantinopla.
Muitos biógrafos atribuem a Tiago, chamado o Justo, o primeiro cargo de chefia da Igreja de Jerusalém. Segundo alguns, seria um dos irmãos de Jesus (Gl, 1:19).
“Naquele tempo também Tiago, o chamado irmão do senhor (Gl, 1:19) – porque também ele era chamado filho de José; pois bem, o pai de Cristo era José (…); esse mesmo Tiago pois, a quem os antigos puseram o sobrenome de Justo, pelo superior mérito de sua virtude, refere-se que foi o primeiro a quem se confiou o trono episcopal da Igreja de Jerusalém.
Clemente, no livro VI das Hypotyposeis, adiciona o seguinte: ‘Porque – dizem – depois da ascensão do Salvador, Pedro, Tiago e João, mesmo tendo sido os preferidos do Salvador, não tomaram para si esta honra, mas elegeram como bispo de Jerusalém Tiago o Justo’.” 3 (II, I, 2-3; p. 47)
Por outro lado, o Espírito de Emmanuel, no livro Paulo e Estêvão, a ele se refere apenas como Tiago, irmão de Levi. 2 (cap. 3; p. 60)
Mateus e Tiago (o menor) eram filhos de Alfeu. 4 (p. 50)
Por outro lado, não podemos desprezar o pensamento do grande historiador e estudioso Daniel-Rops. Segundo ele, a expressão “irmão de Jesus” pode significar apenas um grau de parentesco próximo, como a de um primo em primeiro grau. 5 (cap. 1; p. 22)
Tanto que o venerando Cairbar de Souza Schutel diz: “era filho de Alfeu e de Maria Cleofas, que era irmã de Maria, mãe de Jesus” 6 (p.130), portanto seria primo do Cristo. E completa dizendo que “depois de Pentecostes, Tiago, o menor, foi chamado para diretor do núcleo de Jerusalém”. 6 (p. 130)
Também Jerônimo confirma a informação de que Tiago (menor) teria sido o primeiro líder da primeira igreja, em sua De Viris Illustribus (cap. 22).
De qualquer forma, a coordenação dos trabalhos da Casa do Caminho estava a cargo de Simão Pedro; a quem todos atribuem também a liderança do grupo, embora sempre fizesse questão de ouvir aos demais, antes de tomar uma decisão. E, a bem da verdade, todas as decisões eram tomadas por consenso.
Paulo, o Apóstolo dos Gentios, comenta em sua Carta aos Gálatas que três eram as colunas da primitiva comunidade cristã.
“E conhecendo Tiago, Cefas [Pedro] e João, que eram considerados como as colunas, a graça que me havia sido dada, deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão”. (Gálatas, 2:9)
Nosso leitor pode ter estranhado o artigo, pois não tratou diretamente de um assunto Espírita, mas saibam que assim o fizemos pois acreditamos que é mister devotarmos algum tempo dos nossos estudos à época em que tivemos nosso início. Não podemos esquecer que, antes de mais nada, somos cristãos, e de que nosso principal dever é o da caridade, como fizeram os primeiros cristãos…
Permaneçamos na paz que Jesus desejou nos deixar.


1 CAVALCANTI, Sergito de Souza. A casa do caminho, e os primeiros cristãos. Santa Luzia: Editora Cristo Consolador, 2008.
2 XAVIER, Francisco Cândido. Paulo e Estêvão. Romance ditado pelo Espírito de Emmanuel. 9. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1972.
3 CESAREIA, Eusébio. História Eclesiástica. São Paulo: Fonte Editorial, 2005.
4 MACEDO, Roberto. Vocabulário histórico-geográfico dos romances de Emmanuel. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1960.
5 ROPS, Daniel. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires. São Paulo: Quadrante, 1988.
6 SCHUTEL, Cairbar. Vida e Atos dos Apóstolos. 10. ed. Matão, SP: O Clarim, 2006.

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