Espiritismo, a ponte que unirá a todos

[Fabio A. R. Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br

É atribuída a Léon Denis a frase: “O Espiritismo não é a Religião do Futuro, mas o Futuro das Religiões”. Independente de tê-la dito, natural a pergunta: porque o Espiritismo será o ponto de convergência de todas as religiões?
Costumamos dizer, em nossas palestras, que as religiões se fundamentam, de forma geral, mais na fé do que na razão. Isto é, mais no crer do que no saber. Nas crenças em coisas que não necessariamente podem ser comprovadas; científica e racionalmente falando.
É verdade que, em alguns aspectos, a razão já conduz à um certo entendimento; porém, em outros, acredita-se simplesmente por que alguém – a quem se outorga o status de conhecedor, ou se dá autoridade para isso – diz que assim o é.
Por exemplo, hoje em dia, para a grande maioria, acreditar na existência de Deus chega a ser algo natural, um axioma, uma vez que a própria razão nos leva a concluir que Ele deva existir; para fazer sentido ao que nossos conhecimentos já abarcam sobre o Universo.
Muitos dos físicos quânticos não chegaram a Deus através da própria ciência?
Basta olhar ao nosso derredor para compreender que ninguém seria capaz de concebê-lo, e mantê-lo operante, numa harmonia impressionante, a não ser um Ser infinitamente perfeito em todos os atributos (eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo, bom, etc.).
Basta adentrar no corpo humano para perceber sua impressionante perfeição, sua complexidade ímpar, constituído por trilhões de células que são capazes de atuar em conjunto, numa perfeita sintonia e harmonia, de uma forma que nenhum engenho concebível seja capaz de reproduzir. Quem poderia constituí-lo, se não tivesse tais atributos?
Somente um Ser assim poderia conceber, criar e manter, o Universo. Um único descuido, e, como consequência, toda a criação mergulharia no caos.
Mas, prosseguindo… Acreditar que a salvação está nos dogmas de sacramentos tais como o batismo, a eucaristia e a extrema-unção, é exemplo típico da fé que não buscou ainda uma lógica racional para justificá-la. Um exemplo vivo do crer por crer.
Centenas de tratados foram escritos para atestar o poder salvacionista dos sacramentos, contudo, a bem da verdade, não passam de sofismas criados pelos homens, e que nunca foram comprovados. Quando, na verdade, tudo leva a crer que assim não possa se dar. Por que? Só para citarmos um ponto: porque Deus daria aos clérigos o poder de salvação, quando nem todos teriam acesso a eles? É só lembrar dos aborígenes, em ilhas perdidas em meio ao Pacífico. Jesus, em nenhum momento os instituiu, e muito menos disse que seriam necessários…
Com a 3ª Revelação tomamos consciência de que “o homem, podendo resgatar-se a si próprio das suas faltas, não necessitava do padre”.1 (p. 70)
Imaginar que ressuscitaremos nos mesmos corpos que usamos durante nossa romagem terrestre, é, atualmente, inconcebível, diante dos conhecimentos que o homem já adquiriu. Com uma simples pergunta pode-se pôr abaixo tal concepção: Considerando que a medicina constatou que chegamos a trocar, quase que totalmente, nossas células a cada seis meses, quais das centenas de corpos que tivemos, numa única encarnação, voltaremos a habitar?
Contudo, muitos assim acreditam, não é mesmo caros leitor e leitora? E por quê? Não por ignorância ou teimosia, mas por possuírem a fé de que assim o seja. Aprenderam, no catecismo, nas preleções de domingo, os dogmas e preceitos de suas religiões, e revestem-nos com uma autoridade de uma verdade incontestável.
Igualmente, poderíamos ser questionados quanto ao batismo, uma vez que Jesus submeteu-se a ele. Mas, será Emmanuel que virá em nosso auxílio…
“Q 298 – Considerando que as religiões invocam o Evangelho de Mateus para justificar a necessidade do batismo em suas características cerimoniais (…). Os espiritistas sinceros (…) devem compreender que o batismo, aludido no Evangelho, é o da invocação das bênçãos divinas para quantos (…) se reúnem no instituto (…) da família. Longe de quaisquer cerimônias de natureza religiosa, que possam significar uma continuação dos fetichismos da Igreja Romana, que se aproveitou do símbolo evangélico para a chamada venda dos sacramentos (…).” 2
Outro ponto, o de conceber que Deus seja capaz de punir seus filhos com penas eternas, ou recompensá-los com um céu de felicidades, é também uma crença que cerca de um bilhão e meio de criaturas professam. Há provas que assim o seja? Não! Mas assim estes acreditam. Questão de fé…
Quanto a isso, perguntaríamos: como um Pai, que enviou Jesus Cristo para nos ensinar a amar ao próximo, e a perdoar e amar aos nossos inimigos, puniria para a eternidade, sem apelação possível, sua criatura em pecado?
Somente uma filosofia que possa explicar todos estes fatos, à luz da razão, terá sustentação e será perene, diante do avanço da ciência…
Na proporção que o ser humano evolui, intelectual e moralmente, suas crenças serão cada vez mais baseadas na lógica, e não no simples acreditar porque alguém disse que assim o devemos.
Ademais, à medida que a ciência for demonstrando, cientificamente, todos os preceitos que o Espiritismo nos trouxe, como já ocorre com a maioria deles, entenderemos o porquê ele não é considerado uma religião, e sim “ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam destas mesmas relações”. 3 (preâmbulo)
Por isso, costumamos afirmar que o Espiritismo é uma constatação de fatos.
Como, num futuro próximo, a ciência nos levará ao conhecimento de todas as leis que regem a criação divina, podemos concluir que ocorrerá um realinhamento de todas as religiões.
E como a Doutrina Espírita é baseada em “fatos”, uma vez que as Leis de Deus são “fatos”, quando a humanidade tomar ciência dos mesmos, todos serão levados ao que já foi ensinado pela 3ª Revelação.
Daí porque foi dito que o Espiritismo não é a Religião do futuro, e sim o futuro das religiões?
Não existirão mais religiões; permanecerão, apenas, o conhecimento da realidade que nos envolve. Os templos serão interiores…
Com a correta noção sobre temas como a imortalidade do Espírito, as reencarnações sucessivas, a lei de causa e efeito, o mundo espiritual, a comunicabilidade entre os dois planos, as Leis Divinas, etc., não haverá mais dúvida que não estamos lidando com crenças, e, sim, com fatos…
E para concluir nosso pensamento, transcreveremos uma passagem de Léon Denis, de sua monumental obra: Cristianismo e Espiritismo.
“As crenças, as (…) religiões, tomadas em sua ordem sucessiva, poderiam (…) ser consideradas os degraus que o pensamento galga em ascensão para concepções cada vez mais vastas (…); mas chega sempre um tempo em que as mais perfeitas se tornam insuficientes, um momento em que o espírito humano (…), eleva-se acima do círculo das crenças usuais, para buscar mais completa forma do conhecimento (…). Compreende que todas se ligam por uma base de princípios comuns, que são as imperecíveis verdades, ao passo que todo o resto – formas, ritos e símbolos, são coisas transitórias (…).
Aí vê elevar-se acima de todos os templos, de todas as religiões exclusivistas, uma religião mais vasta que a todos abrangerá, que já não terá ritos nem dogmas, nem barreiras, mas dará testemunho dos fatos e das verdades universais (…). Vê erigir-se um templo em que toda a Humanidade (…), unirá os pensamentos e as crenças numa idêntica comunhão de fé (…). Tal será a religião do futuro, a religião universal. (…) uma fusão dos corações e dos espíritos.” 1 (p. 255)
Neste dia, a realidade que nos cerca, já anunciada pelo Espiritismo, será a ponte que unirá a todos.

Fiquem em paz! E muito sucesso em 2023!

1 DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1987.
2 XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 13. ed. RJ: FEB, 1986.
3 KARDEC, Allan. A gênese. 16. ed. São Paulo: LAKE, 1989.