O pequeno grande passo
[Carlos Eduardo Cavalini] carloseduardo.cavalini@hotmail.com
Há muito nos disseram que é necessário um grande esforço para sairmos de nosso estado de encantamento. Sim, nós estamos encantados pelo mundo. Com o avanço da ciência, cada vez mais ficamos fascinados pelos “milagres” da tecnologia. A distância não é mais um problema para nós. Em poucas horas podemos ir de uma ponta a outra do país. E, muitas vezes, essa viagem pode muito bem ser substituída por uma videoconferência pelo computador ou até mesmo uma ligação pelo aparelho celular. Ah, mas isso também já está ultrapassado, agora temos smartphones com uma infinidade de aplicativos super modernos. É uma maravilha podermos contar com a internet e com a velocidade das informações e serviços que nos chegam a todo instante. Músicas, vídeos, jogos, livros… temos tudo ao alcance com apenas um clique. Compramos e vendemos por e-commerce, sem termos o trabalho de sair de casa. Fazemos amizades e trocamos experiências pelas redes sociais. Tudo é muito simples e fácil.
E a tecnologia avança, corre através do tempo, e nós corremos com ela. Acordamos correndo, passamos o dia inteiro correndo, não há tempo a perder. É necessário correr, correr o máximo que pudermos. Vamos correr para conseguir uma boa vaga na universidade, para alcançar aquele cargo tanto desejado, correr para conseguir dinheiro e o status que nos dará prestígio na sociedade. É claro que merecemos o melhor e não há nada de errado com isso. A grande questão é que fomos fisgados pelas “maravilhas” do mundo. Estamos fascinados e hipnotizados pelo que ocorre a nossa volta. O feitiço foi lançado e nós caímos no encantamento. Levantamos da cama e a primeira coisa que fazemos é ligar o “piloto automático”. Já não importa mais quem somos, o importante é cumprir com todas nossas tarefas diárias mecanicamente, o melhor que pudermos, o mais rápido possível e, no final do dia, retornar para casa e esquecer aquele dia tão estressante. Mas existem as “maravilhas” da ciência para nos preencher. Um jogo no celular pode nos distrair um bocado. E aquele novo filme no cinema, bastante comovente, não?
Aprendemos a gostar dessas “maravilhas” e agora que nos acostumamos, não podemos mais sobreviver sem elas. No fundo, gostamos de viver sempre correndo, pois assim, não somos obrigados a olhar para nós mesmos. Vamos nos esquecer de quem somos. Ou melhor, vamos fechar os olhos, assim não podemos nos recordar de quem verdadeiramente somos. É mais fácil, não é preciso esforço algum, basta apenas seguir o fluxo da maioria. E se o nosso trabalho do dia a dia é duro, há os finais de semana, os feriados e as férias para passarmos um pouco o tempo e nos divertirmos. Vamos esquecer, pois lembrar é muito trabalhoso, ainda mais por que nos disseram que teríamos que dar um grande passo para sair desse encantamento.
Mas isso não é verdade, pois tudo o que precisamos para sair desse estado hipnótico já se encontra conosco, nesse exato instante. Está ao nosso lado, à distância de um braço. O que precisamos fazer é simplesmente erguer nosso braço e agarrar o momento presente. É o que chamo de pequeno grande passo. Ele não é grande, mas também não é pequeno, entretanto, é um ato de coragem, de instante a instante. Erguer o braço à altura de nossos ombros e mantê-lo ali, firme, é um ato de vontade. Erga seu braço e agarre esse instante, viva-o com intensidade, sem se angustiar com o que já passou ou se preocupar com o futuro. Sejamos gratos por esse momento, pois é aqui e agora que tudo se realiza. A gratidão é a própria felicidade. A felicidade não está no futuro, está na gratidão. E gratidão podemos sentir agora, nesse momento. Podemos achar que não há motivos para sermos gratos, mas sempre seremos capazes de expressar gratidão por alguma coisa. Essa energia da gratidão nos manterá no presente e as “maravilhas” da ciência não mais afetarão nossos sentidos, pois a reconheceremos como parte de nós mesmos.