Suicídio. Não podemos parar de falar a respeito!

[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br

Antes de mais nada, a posição da Doutrina Espírita
“Q. 944. O homem tem o direito de dispor da sua própria vida? — Não; somente Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão dessa lei.” 1
Mas não é só isso, uma vez que precisamos aprofundar conceitos. É o que faremos dando continuidade ao capítulo com O Evangelho segundo o Espiritismo 2, codificado por Kardec, encontramos subsídios suficientes para nos posicionarmos sobre este assunto, como Espíritas.
Mais especificamente, em dois temas do capítulo V, intitulado “Bem-aventurados os aflitos.”: (a) Itens 14 a 17: “O suicídio e a loucura” e (b) Item 29 : “Sacrifício da própria vida”.
A bem da verdade, poderíamos excursionar em muitos outros livros da lavra de Allan Kardec, mas isso não se faz necessário.
O suicídio e a loucura
Nestes quatro itens (14-17), em O Evangelho segundo o Espiritismo 2, o mestre lionês Kardec explicou que o Espiritismo é o melhor preservativo para o suicídio, uma vez que por meio dele pode-se encontrar a calma e a resignação na maneira de considerar a vida terrestre e o futuro, o que dão ao Espírito o melhor preservativo contra o suicídio; decorrentes de dois benefícios adquiridos com seu estudo e aceitação:
− O de encarar as coisas deste mundo de uma maneira que ele chega a receber com indiferença os reveses;
− O de estar certo de que melhores dias virão, desta forma enchendo-se facilmente de paciência; por isso não se desespera.
De forma resumida, aqui estão os pontos importantes abstraídos do estudo deste item:
− Exceto em estado de embriaguez e de loucura, é incontestável que tem ele sempre por causa um descontentamento;
− E que é a vida humana, com relação à eternidade?
− Quem não crê na eternidade e julga que tudo se acaba na morte, acha muito natural abreviar pelo suicídio as suas misérias;
− A incredulidade, a dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral;
− O Espiritismo torna impossível qualquer dúvida, pois traz a paciência e a resignação, daí coragem moral de seus adeptos;
− Os próprios suicidas nos informam da situação desgraçada em que se encontram, provando que ninguém viola impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem encurtar a sua vida.
O Espírita, mais do que qualquer outro crente, tem vários motivos que se contrapõem à ideia do suicídio:
− A certeza de uma vida futura. Sabe que será tanto mais ditoso, quanto mais resignado haja sido na Terra;
− A certeza de que chegaria num resultado oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior;
− Que se engana, imaginando que vai mais depressa para o céu;
− Que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele se reúna aos que foram objeto de suas afeições;
− Enfim, que o suicídio é contrário aos seus próprios interesses.
O suicídio disfarçado em atitude meritória…
“Item 29. Aquele que se acha desgostoso da vida, mas que não quer extingui-la por suas próprias mãos, será culpado se procurar a morte num campo de batalha, com o propósito de tornar útil sua morte?
Que o homem se mate ele próprio, ou faça que outrem o mate, seu propósito é sempre cortar o fio da existência: há, por conseguinte, suicídio intencional, se não de fato. É ilusória a ideia de que sua morte servirá para alguma coisa; isso não passa de pretexto para colorir o ato e escusá-lo aos seus próprios olhos. Se ele desejasse seriamente servir ao seu país, cuidaria de viver para defendê-lo; não procuraria morrer, pois que, morto, de nada mais lhe serviria. O verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se trate de ser útil, em afrontar o perigo, em fazer, de antemão e sem pesar, o sacrifício da vida, se for necessário.
Mas, buscar a morte com premeditada intenção, expondo-se a um perigo, ainda que para prestar serviço, anula o mérito da ação. São Luís (Paris, 1860).”
2
Chamou-nos muita atenção a frase: “Disfarçado em atitude meritória.” Embora tenha sido dirigida para quem busque propositalmente a morte em campo de batalha, podemos estender seus conceitos para qualquer outra situação.
Três pontos aprendemos com esta passagem: (1) Que o homem se mate ele próprio, ou faça que outrem o mate, seu propósito é sempre cortar o fio da existência: há, por conseguinte, suicídio intencional; (2) É ilusória a ideia de que sua morte servirá para alguma coisa; isso não passa de pretexto para colorir o ato e escusá-lo aos seus próprios olhos; (3) Isso pode ser estendido para qualquer outra situação…
E como a Doutrina Espírita pode nos ajudar a ajudar? 3
Ela nos chama a responsabilidade, não nos eximindo do trabalho que nos cabe, o de ajudar a minorar o problema do próximo.
Mas ela não nos cobra apenas a ação, a Doutrina Espírita nos instrumentaliza, capacita-nos, para pelo menos tentar ajudar.
Tanto no que podemos fazer, quanto no que é possível falar.
Não significa que teremos sucesso, uma vez que isso vai também depender do principal interessado, que é o que se encontra doente da alma.
No mínimo podemos começar orando por ele… Isso, por si só, ajudará e muito, atraindo Espíritos do bem, para que possam nos intuir e amparar nosso irmão.
Achando que seja receptivo ao convite, não só devemos aconselhar o irmão para que se submeta a um tratamento espiritual, como também levá-lo à uma Instituição Espírita para que tome passes de limpeza ou de tratamento, reduzindo a carga de energias negativas que se imantaram ao seu perispírito por encontrar-se em baixo padrão vibratório.
Pela mesma lei das afinidades (semelhantes se atraem) que induz a incorporação de energias de mesma qualidade da nossa psicoesfera, Espíritos sofredores também são atraídos. O passe também os afastará e os encaminhará para tratamento, na própria instituição.
Como vimos, alhures, é também muito comum nosso irmão ter atraído obsessores.
No caso da depressão, sabemos que em 70% dos casos acharemos obsessores associados ao transtorno, na maioria como consequência e não como causa.
Estes poderão ser retirados e encaminhados nas reuniões de esclarecimento, encaminhamento e desobsessão. Trabalho realizado praticamente em todos os centros Espíritas. A porta de entrada é a “Orientação fraterna”, também conhecida como “Orientação espiritual”.
O atendente saberá indicar qual o tratamento a ser realizado: desobsessão, passes de tratamento, etc.
Outra recomendação, que não deve faltar no arsenal de quem esteja disposto a ajudar, é o da participação das Reuniões públicas.
Nosso irmão está realmente carente de entendimento, para municiar-se de conceitos e valores que a Doutrina Espírita está muito bem preparada para ensinar.
Aí entra a nossa parte falada, na ajuda fraterna.
É importante que quem se encontra em estado de vulnerabilidade comece a entender pontos importantes, tais como de que a morte não existe, sobre a imortalidade do Espírito, sobre a vida pós morte, entendimento a respeito da Lei de causa e efeito, dos impactos do suicídio no perispírito, e, principalmente, do amor infinito do Criador.
Obviamente é necessário muito tato, muita sensibilidade, para que o processo de informação seja positivo e não de efeitos negativos.
Deve-se mostrar os aspectos positivos, que produzam a esperança, a fé, a compreensão de que estamos todos nós preparados, de que ninguém recebe um fardo maior do que pode carregar, para depois, mostrarmos o lado negativo do suicídio; isto é, suas consequências no “outro lado da vida” e nas reencarnações futuras.
Muito importante o carinho e pôr a disposição os nossos ouvidos.
Poderemos ter muitas surpresas boas, uma vez que nosso irmão não quer realmente a morte, na maioria das vezes, e sim acabar com sua dor.
Se ele conseguir entender as causas de sua dor, e de como pode pelo menos minimizá-las, terá dado um passo para que a ideação do suicídio termine por aí.
Fiquem em paz!


1 KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
2 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. São Paulo: Lake, 2007.
3 DIONISI, Fabio Alessio Romano. Suicídio. Precisamos falar a respeito! 1. ed. Ribeirão Pires: Editora Dionisi, 2019.

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