A Igreja de Laodiceia. A Sétima Carta do Apocalipse.

[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br

“Sei as tuas obras, que não és nem frio, nem quente; oxalá que tu foras ou frio, ou quente. Mas porque tu és morno, e nem és frio, nem quente, começar-te-ei a vomitar da minha boca.”

Na Sétima Carta do Apocalipse de João, que se encontra no terceiro capítulo, encontramos: “Carta à Igreja de Laodiceia: 14. Escreve igualmente ao anjo da Igreja de Laodiceia: Isto diz aquele que é a mesma verdade, a testemunha fiel e verdadeira, o que é princípio da criatura de Deus. 15. Sei as tuas obras, que não és nem frio, nem quente; oxalá que tu foras ou frio, ou quente. 16. Mas porque tu és morno, e nem és frio, nem quente, começar-te-ei a vomitar da minha boca. 17. Porque dizes: Rico sou, pois, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não conheces tu que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu. 18. Eu te aconselho a que me compres ouro retemperado no fogo para te fazeres rico, e te vestires de roupas brancas, e não se descubra a vergonha de tua nudez, e unge os teus olhos com colírio para que vejas. 19. Eu aos que amo, repreendo e castigo. Arma-te, pois, de zelo, e faze penitência. 20. Eis aí estou eu à porta, e bato; se algum ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei eu em sua casa, e cearei com ele, e ele comigo. 21. Aquele que vencer, eu o farei assentar comigo no meu trono, assim como eu mesmo também depois que venci, me assentei igualmente com meu Pai no seu trono. 22. Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas (Apc, 3:14-22).” 1
Laodiceia era uma cidade da região de Lídia, localizada a cerca de 60 km a leste de Éfeso. Originalmente chamada de Dióspole e Roa, foi denominada Laodiceia em homenagem a Laódice, esposa de Antíoco II Teos, que reconstruiu a cidade. Era uma das mais importantes cidades da Ásia Menor. Tornou-se uma das primeiras igrejas do cristianismo. 2 (p. 68)
Cidade próxima de fontes de águas termais, era famosa por diversas razões. Primeiramente, era reconhecida pela sua escola de medicina, que, entre outras coisas, produzia um excelente remédio para visão; em segundo lugar, possuía importante tecelagem de roupas de lã negra e macia. Além disso, por se encontrar no entroncamento de três importantes estradas, era riquíssima. 2 (p. 68)
O que explica alguns dos versículos da Sétima Carta, passada a João para que fosse entregue à Sétima Igreja, segundo o Apocalipse de João.
Mas iniciemos do princípio, a respeito das sete cartas entregues à João Evangelista.
Preocupado com os desvios que já estavam acontecendo no Cristianismo, Nosso Mestre Jesus convoca seu Apóstolo amado para que visse e ouvisse as coisas que foram, que são e que serão. Para que recebesse, em desdobramento consciente, os alertas que deveriam ser trazidos.
O Livro da Revelação pode ser dividido em dois grandes blocos, quanto à sua mensagem: (1) a das profecias, quanto aos acontecimentos futuros e (2) a das advertências, quanto aos desvios já presentes no início do Cristianismo e os do porvir.
As Sete Cartas são as advertências aos desvios que já ocorriam e aconteceriam no cristianismo até os dias de hoje, enquanto o Livro dos Sete Selos contém as profecias de tudo o que se sucederia até o “Juízo Final” (A presente transição).
Enquanto as primeiras representam as sete fases do Cristianismo, e Suas advertências quanto aos erros que ocorreriam em cada fase, o Livro dos Sete Selos contém os acontecimentos (profecias) daqueles dias aos atuais, até o térmico da transição, que já se encontra em curso.
A última carta, que decidimos abordar neste artigo, pode ser interpretada como o atual fase do cristianismo: o espiritualista. Nela, o ponto que mais nos chamou atenção foi o modo como Jesus descreve a comunidade desta Igreja: “Sei as tuas obras, que não és nem frio, nem quente; oxalá que tu foras ou frio, ou quente”; que se encontra no versículo 15.
“Em Laodiceia a igreja parecia estar florescendo, mas era espiritualmente pobre.” 3 (p. 296)
Os membros desta igreja, segundo Jesus, não eram frios e nem quentes, mas, mornos.
Entendemos que o frio simbolize o “formal ou sem vida espiritual”, o morno represente “a indiferença ou permanência em cima do muro”, enquanto o quente expresse “entusiasmo ou trabalho”. E para Jesus esta era a pior das situações…
Em Laodiceia, tamanha era a pobreza espiritual, que o orgulho produzido pela prosperidade material levou os próprios cristãos a não enxergar o que realmente era importante. Daí, os versículos 16, 17 e 18… “Estes três epítetos: pobre, em oposição as suas riquezas; cego, em oposição aos famosos colírios de seus médicos; e nu, em oposição a suas fábricas de tecidos” 1 (nota de rodapé); para, logo em seguida fazer um convite à meditação e ao arrependimento: “Eu aos que amo, repreendo e castigo. Arma-te, pois, de zelo, e faze penitência.”
Como já antecipamos, a Igreja de Laodiceia representaria o sete e último período do cristianismo. “Dessa maneira, podemos interpretar a visão simbólica das sete igrejas como uma divisão de sete períodos pelos quais as comunidades dos seguidores da boa-nova passariam ou passam através dos séculos.” 4 (p. 37)
Esta última representaria o atual movimento espiritualista, o que inclui os Espíritas. É a última fase da igreja neste orbe, antes da entrada do planeta no Mundo de Regeneração.
Se voltarmos nossas atenções às palavras do venerando Cairbar de Souza Schutel, em sua obra Interpretação sintética do Apocalipse 4, encontramos afirmação semelhante, e muito clara no que tange ao estarmos vivenciando o último período do mundo religioso.
Na introdução da obra consta: “É o livro das predições que narra, em linhas gerais, aquilo que havia de suceder no mundo religioso, e que está tendo o seu cumprimento literal.” 4 (p. 9)
Caros leitores, esta mensagem é de profunda gravidade, pois se destina aos que pertencem a estes grupos; para que acordem de sua letargia, e se preparem para o advento dos novos tempos.
A situação é comparada à água morna. A de apatia e uma aparente letargia espiritual que ameaça dominar as consciências daqueles que julgam possuir muito, em termos espirituais. Com o conhecimento da vida póstuma, da reencarnação, da inter-relação com os mortos e de outros preceitos básicos que vieram com o Consolador Prometido, muito dos atuais discípulos de Jesus infelizmente julgam encontrar-se enriquecidos o suficiente para não precisar de maior profundidade. A mensagem, contudo, é taxativa: “és um coitado [ou desgraçado], e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Apc, 3:17). O simples conhecimento destas verdades não nos torna melhores. É mister interiorizar os valores adquiridos, modificar as disposições íntimas e desenvolver a consciência do amor e da fraternidade, a fim de ser verdadeiramente considerado seguidor do Mestre Amado.
Positivamente, precisamos acordar de nossa letargia, nossa cegueira, e dinamizar o movimento de ascensão interior…
Fiquem em paz!


1 Bíblia Sagrada. Rio de Janeiro, RJ: Edição Barsa, 1965.
2 DIONISI, Fabio Alessio Romano. O Apocalipse de João. Uma visão Espírita. 1. ed. Ribeirão Pires: Editora Dionisi, 2018.
3 Dicionário da Bíblia. Vol. 1: as pessoas e os lugares. Organizado por Bruce M. Metzger e Michael D. Coogan. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Editor, 2002.
4 PINHEIRO, Robson. Apocalipse. Uma interpretação Espírita das profecias. Ditado pelo Espírito Estêvão. 5. ed. Contagem, MG: Casa dos Espíritos, 2005.
5 SCHUTEL, Cairbar de Souza. Interpretação sintética do Apocalipse. 4. ed. Matão, SP: Casa Editora O Clarim, 1985.

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