Ajuda-te, que o céu te ajudará

[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br

Pai, dai-me coragem para mudar o que pode ser mudado, dai-me paciência para aceitar o que não pode ser mudado, e dai-me intuição para diferenciar uma coisa da outra.”

Esta popularmente conhecida máxima “Ajuda-te, que o céu te ajudará” foi amplamente abordada por Kardec 1.

Para isso, nosso querido Codificador foi buscar no Sermão do Monte a inspiração necessária para explicá-la.

“Pedi e vos será dado; buscai e encontrareis; batei e será aberto para vós. Pois todo aquele que pede recebe, e aquele que busca encontra, e ao que bate será aberto. Qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? Ou, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente? Portanto, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai (que está) nos céus dará boas (coisas) aos que lhe pedem.”(Mateus, 7:7 a 11)  2

Fazendo uma pequena digressão… antes de prosseguirmos com o artigo.

Vocês sabiam o que Mahatma Gandhi, que nem era Cristão, disse a respeito do Sermão do Monte?

“Mais tarde disse Gandhi a um amigo: Se toda a literatura espiritual da humanidade perecesse, e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido”. 3

A respeito deste nosso comentário sobre Gandhi não ser cristão, diria Rohden 4 de Mahatma (nome, cujo significado é: “essa grande alma”): “Mahatma Gandhi – o pagão crístico que não aceitou o Cristianismo eclesiástico”. E, nós teríamos dito: “quando crescermos, queremos  ser que nem ele…”

Quantos “candidatos à cristão” não gostariam de ser tão “não-cristãos” como ele o foi…

Mas voltemos às nossas reflexões.

No Evangelho Segundo o Espiritismo 1, Kardec relaciona este provérbio com a máxima que se encontra nos versículos acima: “Buscai e encontrareis”.

“Do ponto de vista terreno, a máxima: Buscai e achareis é análoga a esta outra: Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho e, por conseguinte, da lei do progresso, porquanto o progresso é filho do trabalho, visto que este põe em ação as forças da inteligência. Na infância da Humanidade, o homem só aplica a inteligência à cata do alimento, dos meios de se preservar das intempéries e de se defender dos seus inimigos. Deus, porém, lhe deu, a mais do que outorgou ao animal, o desejo incessante do melhor, e é esse desejo que o impele à pesquisa dos meios de melhorar a sua posição, que o leva às descobertas, às invenções, ao aperfeiçoamento da Ciência; porquanto é a Ciência que lhe proporciona o que lhe falta.” (item 2)

“Do ponto de vista moral, essas palavras de Jesus significam: Pedi a luz que vos clareie o caminho e ela vos será dada; pedi forças para resistirdes ao mal e as tereis; pedi a assistência dos bons Espíritos e eles virão acompanhar-vos e, como o anjo de Tobias, vos guiarão; pedi bons conselhos e eles não vos serão jamais recusados; batei à nossa porta e ela se vos abrirá; mas, pedi sinceramente, com fé, confiança e fervor; apresentai-vos com humildade e não com arrogância, sem o que sereis abandonados às vossas próprias forças e as quedas que derdes serão o castigo do vosso orgulho.” (Item 5)

“Tal o sentido das palavras: buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á.”

Portanto, seguindo Kardec, esta expressão pode ser analisada sob dois aspectos: o terreno e o moral. Sob o ponto de vista:

1) Terreno: sua recomendação é o trabalho, a ação, o esforço próprio, diligente, para melhorarmos nossas condições materiais;

2) Moral: ela nos incita a melhorarmos nossas condições espirituais.

Podemos pedir ao Altíssimo que nos faculte o que for necessário ao nosso progresso, seja o espiritual, seja o material; porém, o esforço para lograr esta melhora tem que ser nossa…

E Ele nos diria: “Ajuda-te”

Ajuda-te através do trabalho e da prece.

No trabalho, sem nunca nos entregarmos à preguiça ou à inatividade. O Nosso Senhor Jesus Cristo quis, no Sermão do Monte, nos recomendar à ação.

Esforçando-nos diligentemente para melhorar nossas condições materiais, e, principalmente, às espirituais, podemos pedir ao Altíssimo que nos faculte o que for necessário ao nosso progresso. Esforço este necessário para tornar-nos merecedores daquilo que almejamos.

No “ajuda-te” também está implícito o conceito de que somente podemos nos auxiliar quando fazemos escolhas certas; ninguém pode se ajudar se fizer más escolhas; se não agir de forma adequada. Afinal de contas, não usamos a expressão “Ele não se ajuda”, muitas vezes, para aqueles não tem uma boa atitude para consigo mesmo…

E, como já dissemos acima, isso vale tanto sob o ponto de vista material, quanto ao espiritual.

1) Do ponto de vista material: o trabalho para atender a nossa necessidade de progresso, tanto material como também o intelectual; este último necessário para nossa evolução em direção à conquista da sabedoria;

2) Do ponto de vista espiritual: o trabalho na seara do espírito; como fator de equilíbrio e progresso espiritual. Sim, de equilíbrio pessoal, pois o bom tarefeiro, além de aliviar à sua consciência, pois “O amor apaga a multidão dos pecados”, sente a verdadeira paz espiritual. E, este último, à prática do amor ao próximo, nos leva à conquista das virtudes.

Dizendo-nos que se buscarmos, acharemos, o Nosso Senhor Jesus Cristo também nos ensina a procurarmos as imperfeições de nossa alma.

E, depois de achá-las, peçamos ao Pai que nos inspire para ficarmos livres delas; o que nos levará, automaticamente, à reforma íntima.

Na oração, com o “pedi”, Jesus nos lembra, também, para nos servirmos da prece. Pois a prece sincera, dirigida ao Altíssimo, sempre encontra resposta. É, pela prece, que mostramos o íntimo de nosso coração ao Pai Criador; e, Ele, certamente, saberá prover de acordo com as nossas necessidades.

Para, então, Ele completar: “Que o céu te ajudará”

No atendimento aos nossos pedidos.

Deus é o Supremo Despenseiro; portanto é a Ele que devemos dirigir nossas solicitações. E a “quem bate, abrir-se-á”, pois Jesus também nos ensinou que os planos superiores estarão sempre abertos para atender aos nossos justos pedidos, em quaisquer circunstâncias em que nos encontremos.

Contudo, é ­­­­­­imperioso ter em mente que só receberemos o que for de real interesse ao nosso progresso. Se, em nossa ignorância, pedirmos coisas que prejudicarão nosso aprimoramento espiritual, não as receberemos…

E, se nossos rogados não forem atendidos, não esqueçamos que, mesmo assim, receberemos sempre uma resposta às nossas preces. No mínimo o conforto e as consolações dos nossos amigos espirituais.

Sempre o fim…

Infelizmente, mais uma vez, estamos chegando ao fim… Porém, antes que o nosso espaço termine, queremos deixar um resumo do que aprendemos com estas nossas reflexões…

A começar, sobre a necessidade de que o esforço tem que partir de nós mesmos; para que nos tornemos merecedores do almejado. Tanto nas coisas de ordem matéria, quanto nas de cunho espiritual; pois, colocando-nos a caminho, quer na realização material, quer na espiritual, receberemos sempre a ajuda do Pai, através de seus prepostos, para alcançarmos os nossos objetivos. Porém, isso se assim Ele achar que deva ocorrer.

O que nos leva a outro ponto importante: “o do saber pedir”; e, não menor que este, “o do saber agir”; visto que nossas escolhas devem ser adequadas às nossas necessidades.

Se pedirmos o que não nos convém, Deus, em sua infinita sabedoria, não atenderá nossos pedidos.

E, mesmo que assim seja, não devemos nos frustrar; pois, certamente, receberemos o que mais nos convém… Pois que, como diria o grande Paulo de Tarso: “Tudo posso, mas nem tudo me convém…”

______________________________________________________________________________

1KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XXV. Buscais e Achareis. Itens 1 a 5. Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará.

2O Novo Testamento. Tradução de Haroldo Dutra Dias. Edição do Conselho Espírita Internacional. 1ª edição. 2010.

3ROHDEN, Huberto. Mahatma Gandhi. O Apóstolo da Não-Violência. Capítulo 4. Página 38. 1ª Reimpressão. Editora Martin Claret Ltda. 2008

4Idem. Ibidem. Página 75.

O autor é Presidente do “Recanto de Luz – Pronto Socorro Espiritual Irmã Scheilla”, em Ribeirão Pires (SP)

www.irmascheilla.org.br

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *