EDITORIAL No. 129 (Novembro, 2024) – “Doenças autopunitivas, numa visão Espírita”
[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br
Como início, vale lembrar o nosso histórico-cultural, ao longo dos últimos quatro milênios.
Desde Moisés, vivemos numa cultura da culpa e do medo de um inferno eterno. Estas crenças foram penetrando e se consolidando, ao ponto de fazerem parte do nosso arcabouço psicológico. Em não poucos casos, transformaram-se em complexos de longo curso. Fomos dominados desta forma.
No Antigo Testamento, várias vezes encontramos um Deus antropomórfico, repleto de sentimentos humanos, que odeia quem não faz a sua vontade, destrói os inimigos de seus filhos diletos, e condena o ímpio.
A partir do cristianismo, quando começou o desvirtuamento das palavras de Jesus, no início do segundo século, o clero emergente, sequioso do poder, da pompa e da riqueza, dominou os seus prosélitos a partir do medo.
Todos éramos pecadores, destinados à penas eternas a não ser que nos submetêssemos às práticas depuradoras, instituídas pelos novos “donos” da religião.
Não havia salvação, a não ser através dos ministros que, segundo o clero emergente, Deus elegera para intermediar nossa salvação. Daí surgiram os sacramentos.
Chegou-se ao ponto absurdo de aprendermos que já nascíamos pecadores, por culpa de ancestrais que haviam desobedecidos ao Pai, Adão e Eva. O “pecado original”, que só podia ser debelado se nos submetêssemos ao sacramento do batismo.
Os pecados eram classificados pela sua gravidade, e todos nós, em maior ou menor grau, erámos classificados como pecadores, necessitados da misericórdia divina para nos salvar.
Milênios de uma cultura religiosa que explorou o domínio, pela culpa e o medo, e pela exclusividade dos métodos de salvação.
Daí, uma das principais origens das doenças autopunitivas.
Este tipo de enfermidade é provocado pelo próprio indivíduo, como forma de autopunição.
Esta cultura milenar fez com que muitas pessoas potencializassem em si o sentimento de culpa, ao ponto de necessitarem se punir, como uma forma de aplacar uma suposta ira de Deus.
Obviamente, não podemos imputar à esta cultura todos os casos de autopunição…
Como a essência divina encontra-se em nós, quando surge a consciência do erro e o remorso, é natural que reajamos com maior ou menor intensidade, dependendo de nossa maturidade psicológica.
Por exemplo, pessoas que erraram, como parte do processo de aprendizado, tem mais facilidade de lidar com a culpa, em comparação aos que deliberadamente cometeram erros estrondosos, conscientes do que faziam.
Nos primeiros, tão logo tomem ciência do que fizeram, surge um sentimento de culpa, nos últimos, pode despencar num complexo de culpa.
“O sentimento de culpa parte daquele homem que avalia o seu erro e reconhece que cometeu os erros, ou erro, sem malícia nem maldade (…). O complexo [de culpa] é de alguns homens, daqueles que fizeram o mal, pelo prazer do mal (…).” 1 (p. 161)
Nos primeiros, faz parte do próprio processo evolutivo, que ocorre por tentativa e erro.
“Já o complexo de culpa se aplica àquele homem que faz o mal, por vontade pessoal, ninguém o obrigou, ele o faz por desejo, por prazer, ele o faz porque assim o quer.” 1 (p. 162)
Quando o remorso atinge as raias do insuportável, há indivíduos que provocam sua própria punição. Pelo poder do pensamento, ou em função de desequilíbrios mentais, acabam gerando disfunções ou distonias que levam o corpo físico à enfermidade.
Neste ponto, recordamos de uma passagem registrada no livro Instruções dos Espíritos: “(…) pode-se fazer essa análise mais profunda, sabendo que os pontos afetados são os pontos onde ele falhou (…). Ele provoca, por várias circunstâncias, o acidente que há de criar aquele tipo ou aquele nível de constrangimento orgânico; alguma coisa que lhe prejudique a função material orgânica… Nós mostramos a vocês aquele homem que, num acidente doméstico, lesionou bastante os nervos do punho, trazia ele marcas de muitos assassínios do passado (…). O bloqueio dele, o desejo dele de se autopunir seria justamente para perder o braço, mas ele já tem uma folha no bem. Então, ele provocou o bloqueio parcial de suas reações (…).” 1 (p. 18)
Embora não seja de nosso desejo esgotar o assunto, podemos incluir mais uma situação que leva a um complexo de culpa exacerbado, que pode descambar para a autopunição.
Àqueles que supervalorizam seus erros. Apesar de cometerem erros como todo mundo, dão uma importância exagerada, julgando-se inferiores e que julgam os outros superiores. Chegam a acreditar que sejam merecedores da punição de Deus… 2 (p. 240)
Nelas, o sentimento de culpa é muito presente e forte.
“Entre elas podem ser classificadas todas as criaturas que estão envolvidas com grandes formas de repressão (…). Conviveram com pessoas que as dominaram e sentem-se realmente deprimidas (…); então elas se antecipam à acusação de alguém se auto acusando.” 1 (p. 189)
Oxalá tenhamos sido úteis…
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(a) Recanto de Luz – Irmã Scheilla, em Ribeirão Pires (SP). Os trabalhos ocorrem há 39 anos através de um médium de cura, Edson Barbosa de Souza; tanto na forma presencial como a distância.
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1 PAMPHIRO, Altivo C. Instruções dos Espíritos. Organizado por Mário Coelho. Vol. 1. 1. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2014.
2 DIONISI, Fabio. Medicina do Além. Um presente de Jesus para a humanidade. 2. ed. Ribeirão Pires: Editora Dionisi, 2018.
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O autor é editor, articulista, escritor, palestrante, jornalista; responsável pelo CE Recanto de Luz – Pronto Socorro Espiritual Irmã Scheilla, em Ribeirão Pires (SP). www.irmascheilla.org.br