EDITORIAL No 136 (Junho, 2025) – Reencarnação e a construção do bem em si

Editor responsável: Fabio Dionisi
[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br

Outro dia, perguntei-me do porquê da reencarnação. Curiosamente, a primeira coisa que me veio à mente foi a Cepa que se encontra em Prolegômenos, em O Livro dos Espíritos.

“Porás no cabeçalho do livro a cepa que te desenhamos, porque é o emblema do trabalho do Criador. Aí se acham reunidos todos os princípios materiais que melhor podem representar o corpo e o espírito. O corpo é a cepa; o espírito é o licor; a alma ou espírito ligado à matéria é o bago. O homem quintessencia o espírito pelo trabalho [sublima o espírito] e tu sabes que só mediante o trabalho do corpo o Espírito adquire conhecimentos [adquire conhecimentos].” 1 (p. 65)

De acordo com os Espíritos, a cepa é o emblema do trabalho do Criador. E, quanto a nós, a cepa, tronco de videira, representa o corpo, o licor, qualquer líquido, representa o Espírito, e o bago, cada fruto do cacho de uvas, é a Alma.

Reparem que acima colocamos duas reflexões em colchetes, pois nos fez lembrar as palavras de Emmanuel sobre as duas asas da ascensão do Espírito à presença de Deus

“Já se disse que duas asas conduzirão o Espírito humano à presença de Deus. Uma chama-se amor; a outra, sabedoria. Pelo amor, que, acima de tudo, é serviço ao semelhante, a criatura se ilumina e aformoseia por dentro, emitindo em favor dos outros, o reflexo de suas virtudes; e pela sabedoria, que começa na aquisição do conhecimento, recolhe a influência dos vanguardeiros do progresso, que lhes comunicam os reflexos da própria grandeza, impelindo-a ao Alto. Através do amor valorizamo-nos para a vida. Através da sabedoria somos pela vida valorizados.” 2 (p. 19)

Compreende-se porque a reencarnação é o modelo, escolhido por Deus, para nossa evolução enquanto não caminhamos por nossa própria conta; ou seja, para nos constranger a realizar esta caminhada.

Os atritos com a diversidade dos nossos irmãos, somente é possível nesta dimensão, uma vez que aqui não ocorre a separação por padrão vibratório; o que, quando bem aproveitados,  elevam-nos na asa do amor. Enquanto a necessidade do trabalho, para preservação física, impulsiona-nos na asa da sabedoria.

Como ainda somos muito crianças, não fazemos este esforço por iniciativa nossa, daí a imposição da reencarnação na terceira dimensão. Dia chegará que caminharemos sozinhos, sem mais precisarmos reencarnar.

Em O Livro dos Espíritos pinçamos três questões a respeito: Q 168, Q 169 e Q 180. 1

A primeira a pergunta fala sobre o número das existências corporais, se é limitado ou reencarnamos perpetuamente. Os Espíritos responderam que a cada nova existência damos um passo para diante, na direção do progresso, e que, não necessitamos mais das provas da vida corporal ao nos alijar de todas as impurezas.

A segunda discorre sobre o número das encarnações é o mesmo para todos os Espíritos. Somos esclarecidos que não, uma vez que aquele alguns caminham mais depressa.

A terceira e última põem um ponto final às reencarnações, uma vez que se atinja o estado de bem-aventurado, ou seja, o de Espírito puro.

Todavia temos que lembrar que o progresso é infinito. Não é porque tenha chegado ao estágio de Espírito puro que não continue sua evolução.

Após estas reflexões, lembro-me que uma segunda pergunta me aflorou a mente: o porquê da construção do bem em nós?

Usando a razão, conclui que a força motriz para estre trabalho deva passar pelo entendimento do porquê se deve fazer o bem, viver no bem.

Tomemos Santo Agostinho como exemplo, dentre os inúmeros pensadores que se bateram com a questão milenar entre a Fé e a Razão; o grande embate da filosofia, desde sempre.

Ele as conectava, dizendo que é necessário compreender naquilo que se crê: “Desejo impacientemente não apenas aceitar pela fé, mas também compreender pela razão.” 3 (p. 400)

No diálogo entre Agostinho e Evódio, na sua obra: O Livre-arbítrio, encontramos que Agostinho reafirma que o propósito dos dois é tentar compreender aquilo em que creem. Entender para crer, crer para compreender (Santo Agostinho). 3 (p. 400)

Santo Agostinho não encontraria, apesar de seu esforço hercúleo para encontrar por meio da razão as explicações da fé (compreender para crer); tanto que, mais tarde, aceitaria as verdades bíblicas como as únicas confiáveis, mesmo que sem poder justifica-las pela razão (filosofia). Somente, com o advento do Consolador Prometido, pela primeira vez na história da Filosofia, a Razão encontrar-se-ia pari passu com a Fé; ou seja, a Fé seria explicada pela Razão.

Daí, temos a Doutrina Espírita que nos esclarece e liberta; por isso que dizemos que, acima de tudo, a Doutrina é libertadora.

 “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João, 8:32)

Mas não basta compreender por que devemos viver no bem… Dois inimigos espreitam nossos passos nessa senda, mesmo que tenhamos entendido o porquê…

O maior de todos, é o inimigo interno. Temos o Ego que quer nos dominar…

Uma das minhas interpretações para a passagem: “Vigiai e Orai, para que não entreis em tentação. O espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” (Mt, 26:41)

A “carne é fraca” no sentido do impacto da matéria sobre o Espírito (reduz nosso padrão vibratório). Uma das razões do porquê aqui é mais fácil sermos levados a agir de acordo com nosso ditador interior: o Ego.

Mesmo ao tomarmos consciência disso, ainda fica uma questão das mais importantes: mas como vencer nesta luta entre o Ego e o Espírito (flama divina)?

Quem deu o primeiro passo foi Sócrates: “Um sábio da antiguidade vos disse: Conhece-te a ti mesmo” (aforismo inscrito no oráculo de Delfos; atribuído a Socrates).

E a Doutrina nos ensina que é a reforma íntima decorre do bom aproveitamento deste autoconhecimento. Aqui voltamos a Santo Agostinho, na famosa questão 919 de O Livro dos Espíritos…

Sócrates usava o tripé: “conceito – ironia – maiêutica” para realizar esta proeza.

Ele dizia que no momento que temos o conceito certo, e vamos para o nosso interior, enxergamos o que está errado em nós, daí, mudamos nossas crenças e valores…

Desta forma nos imunizamos, inclusive, contra os ataques do mal.

Para isso, mister entender os mecanismos internos (nossos gatilhos) e os externos (usados pelos irmãos que estão na retaguarda, à nos armar armadilhas).

 “Sereis odiados de todos por causa de meu nome. Aquele, porém, que perseverar até o fim, será salvo.” (Mt, 10:22)

Mas os Espíritos exercem tanta influência nos acontecimentos de nossas vidas? A resposta encontra-se na Q. 459: “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.” 1

Paulo de Tarso disse, em sua Carta aos Efésios (6:10-18): “A vida cristã é luta – Ademais, fortaleçam-se no Senhor e na força do seu poder. Vistam a armadura de Deus para poder resistir às manobras do diabo. A nossa luta, de fato, não é contra homens de carne e osso, mas contra os principados e as autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os Espíritos do mal, que habitam as regiões celestes (…).”

Agora, estamos aptos a compreender (e ter a fé) do porquê devemos construir o bem dentro de nós.

 “Conhecereis a verdade, e ela vos libertará.” (João, 8:32)

E, Jesus Cristo deixou bem claro de como deve ser realizado: “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Dt, 6,5). Este é o maior e o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás teu próximo como a ti mesmo (Lv, 19,18). Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas.” (Mt, 22:34-40)

Para que não tenhamos dúvidas a respeito do que é amar o próximo e a nós, Ele, também, nos ensinou: “Assim, tudo quanto quereis que os que os homens vos façam, assim também fazei vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas.” (Mt, 7:12)

Cuidando para não sermos tentados, pelos nossos dois inimigos, alertou: “Vigiai e Orai, para que não entreis em tentação. O Espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” (Mt, 26:41)

Sigamos as receitas fornecidas pelos Nobres Espíritos, e, certamente, ficaremos em paz.

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1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2007.

2 XAVIER, Francisco Cândido. Pensamento e Vida. Ditado pelo Emmanuel. Cap. 4. Brasília: FEB, 2017.

3 DIONISI, Fabio A. R. O Missionário Santo Agostinho de Hipona. E a 2ª Revelação. Ribeirão Pires: Editora Dionisi, 2014.

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O autor é editor, articulista, escritor, palestrante, jornalista; responsável pelo CE Recanto de Luz – Pronto Socorro Espiritual Irmã Scheilla, em Ribeirão Pires (SP). www.irmascheilla.org.br

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