Deus
[Simone Biaseto de Oliveira] monibiaseto@gmail.com
“Deus é a Inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas.” [1]
Dizem que quando Einstein foi questionado sobre sua fé em Deus, respondeu que acreditava em Deus segundo Spinoza. Há um texto belíssimo atribuído a Baruch Spinoza que expressa de forma poética um conceito diferenciado de Deus, ainda mais para a época, em pleno século XVII que, na minha humilde opinião, apresenta similaridades com a nossa Doutrina Espírita.
Spinoza (1632- 1677) foi um filósofo holandês que escreveu diversos livros, dentre eles Ética, onde usando de proposições procura argumentar sua visão diferenciada da igreja da época a respeito de Deus. Foi excomungado por suas ideias de um Deus despersonalizado, incriado, causa primeira de todas as coisas, que não castiga (pois não é vingativo), não culpa (pois não é inquisitivo), não precisa perdoar (pois não se ofende), não precisa ser temido (pois não é mau), nem idolatrado (pois não é ególatra), mas um Deus que precisa ser sentido acima de tudo, um Deus que encontra-se em comunhão com a natureza e com todas as suas criações, incluindo a humanidade. Buscou a espiritualidade racionalista, ou seja, que devemos buscar uma interpretação racional da Bíblia e não a dogmática. Via a religião como um alimento do medo, com a finalidade de obediência dos fiéis às autoridades religiosas. Defendia que as pessoas comuns associavam Deus com fenômenos extraordinários, sendo que os fenômenos naturais diários demonstram por si só a magnitude Divina, o milagre cotidiano da existência.
Nesse singelo resumo, pontuamos algumas afinidades da filosofia de Spinoza com a da Doutrina Espírita. Abro um parêntese aqui, para esclarecer que o espiritismo, além de filosofia, é também religião e ciência. Porém destaco, uma religião que tem por fim ajudar-nos a estreitar os laços com Deus, por meio de uma fé raciocinada, aqui já uma primeira similaridade. Uma religião que não alimenta o medo, nem busca obediência, nem possui autoridades para serem referenciadas. Uma doutrina que procura com argumentos pertinazes demonstrar que Deus não é um senhor barbudo que mora nas nuvens do céu, Ele está nos astros, nas cachoeiras, nas montanhas, nos rios, na brisa da manhã, nas flores, nas árvores, no canto dos pássaros, no meu animalzinho de estimação, no meu marido ou esposa, nos filhos, nos pais, nos amigos, no sorriso sincero, na mão que se estende para auxiliar, no abraço carinhoso, na gentileza, no coração apaixonado, em cada um de nós… Deus não nos julga, nem castiga ou perdoa (pois não se ofende, enfatizando), nem tampouco se compraz em ser idolatrado. Ele nos ama! Ama e ama. Um amor de tamanha profundidade e proporção inimaginável para nós, seres com longo caminho a percorrer rumo a evolução.
Deus é causa primeira de todas as coisas, como definiram os Espíritos. Pois todo efeito tem uma causa e essa causa é inteligente. Como disse Kardec, em A Gênese, basta um olhar atento à natureza para constatarmos a grande harmonia que preside a tudo e a magnífica inteligência que a criou. Essa causa inteligente não precisa ser vista para estar provada sua existência, diz ele, assim como ninguém duvida da existência de um relojoeiro quando vê um relógio de pêndulo funcionando, nem duvida da inteligência do profissional que criou a máquina. Nem afirma: “Eis um relógio bem inteligente”. Ou seja, até hoje ainda há dúvidas a respeito da origem da vida no nosso planeta, cientificamente falando. Houve o Big Bang? Como se agregaram as primeiras moléculas? Quais foram os primeiros seres vivos? Quais foram os processos químicos que deram origem à matéria? Independente da resposta dessas questões, não resta a menor dúvida do artífice supremo de tudo isso: Deus.
Finalizo, caro leitor(a) com trecho do texto antes mencionado, de Spinoza:
“(…)
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.
Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio.
(…)
Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar. Ninguém leva um registro. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.
Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho.
Vive como se não o houvesse.
Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir.
(…)
Pára de crer em mim – crer é supor, adivinhar, imaginar.
Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
(…)
Não me procures fora!
Não me acharás.
Procura-me dentro… aí é que estou, batendo em ti.”
[1] Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução: Salvador Gentile. 123ª ed. Araras: IDE, 1974, pg. 45.
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Simone Biaseto de Oliveira. Advogada. Articulista e professora de Doutrina Espírita, no Recanto de Luz Irmã Scheilla. Colabora com a Folha Espírita Cairbar Schutel.
Concordo com vc Deus e só amor ele está em todas coisas não tem como dúvida uma Rosa se abre uma árvore nasce o Sol brilha tudo é Deus