Vencendo a Inércia

[Simone Biaseto de Oliveira] monibiaseto@gmail.com

Convém não esquecer, contudo, que a realização nobre exige três requisitos fundamentais, a saber: primeiro, desejar; segundo, saber desejar; e terceiro, merecer ou, por outros termos, vontade ativa, trabalho persistente e merecimento justo.” [1]

Pela lei da inércia podemos entender, sinteticamente, que se um corpo está se movimentando em determinada direção e velocidade, tende a assim permanecer; ou, do mesmo modo, se está parado, também tende a assim permanecer. Para ser possível sair desse estado de permanência, tanto para mudança de direção ou velocidade, como para mover o que está estático, faz-se necessário o emprego de uma força.

Como no jogo de boliche, por exemplo, os cones estão lá parados, no fundo da pista, utilizando a nossa força e a transmitindo a bola, ao arremessarmos e acertamos os cones eles saltam e caem, ou seja, saem da inércia. Analogicamente essa força seria para nós: fé, esforço, trabalho, perseverança, vontade ativa. Pois, se queremos algo é necessário força para concretizar esse desejo.

O Evangelho Segundo o Espiritismo, no Cap. XXV, afirma a esse respeito: “do ponto de vista terreno, a máxima: Buscai e achareis é análoga a esta outra: Ajuda-te a ti mesmo, que o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho e, por conseguinte, da lei do progresso, porquanto o progresso é filho do trabalho, visto que este põe em ação as forças da inteligência.” O desejo de prosperar é inato ao ser humano. Assim o fez Deus, nosso Criador, por obra de Sua vontade, com a finalidade de nos estimular ao trabalho, ao desenvolvimento da inteligência, ao esforço contínuo rumo à evolução não somente relacionada à vida física, mas principalmente as conquistas de aprimoramento espiritual.

Jesus disse: pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Ele não disse que bastava pedir e ficar esperando nosso desejo ser realizado. Nem tampouco que se ficássemos parados em frente a uma porta fechada alguém viria abri-la para nós. Ou seja, nos recomendou a ação, jamais a inércia. Certamente podemos contar com a ajuda de Deus, dos benfeitores espirituais, dos nossos mentores, o que buscamos, iremos encontrar. Mas para tanto precisamos nos ajudar também.

O trecho em destaque, precedente ao texto, refere-se a diálogo firmado entre André Luiz e o enfermeiro visitador Lísias, logo após André ser socorrido do umbral e encaminhado à colônia espiritual Nosso Lar, a fim de restabelecer-se e preparar-se para a nobre tarefa que estava por vir. Onde Lísias estabeleceu requisitos primordiais para realização de nobres objetivos. Primeiro, é preciso desejar (querer a realização…); segundo, saber desejar (ponderar a utilidade pessoal e coletiva na escolha do objeto do desejo); e terceiro, merecer. Nesse último item, peço licença para aprofundar um pouco mais a questão.

O verbo merecer vem de mérito. Correto?! Mérito, do latim meritum, é a ação que torna uma pessoa digna de ser “recompensada” ou “castigada”, dependendo da ação executada. O mérito é aquilo que justifica um reconhecimento ou que explica um fracasso. No caso de André, ele teve o mérito de receber a tão desejada visita de sua mãe, que tanto conforto, esperança e ânimo lhe trouxe.

Pode entender-se como mérito o resultado das boas ações de uma pessoa (espírito). O mérito, neste sentido, converte o sujeito em digno de apreço. O talento, o esforço, o êxito profissional, o comportamento ético e a solidariedade são exemplos de algumas questões meritórias.

Entretanto, triunfar graças aos favores de outras pessoas, à mentira, à burla e ao egoísmo não é e não pode ser considerado digno de mérito, mesmo que se consiga cumprir com os objetivos ou superá-los graças a estes recursos.

Mérito, quando sinônimo de merecimento, reflete ser uma pessoa digna de ter recebido algo. Como a recompensa por uma boa ação. Lembrando ensinando do Mestre Jesus: “(…) a cada um segundo as suas obras” (Mateus 16:27).

Por todo o exposto, podemos concluir que não basta apenas pedir e aguardar inercialmente, deve existir vontade ativa para que nossos desejos se concretizem. “Em cada existência, uma ocasião se depara à alma para dar um passo avante; de sua vontade depende a maior ou menor extensão desse passo: franquear muitos degraus ou ficar no mesmo ponto[i].


[1] Xavier, Francisco Cândido Xavier. Nosso Lar.


[i] Kardec, Allan. O Céu e o Inferno, 1ª parte, Cap. 5- n.4

3 comentários em “Vencendo a Inércia

  • 17 de outubro de 2021 em 09:44
    Permalink

    Excelente texto.
    De fato, temos que saber interpretar o que Jesus quis dizer…

    Resposta
  • 17 de outubro de 2021 em 10:28
    Permalink

    Com certeza temos que saber interpretar as palavras do Cristo! E mais temos que ter coragem para enfrentar os desafios e prosseguir com esperança de que tudo vai dar certo conforme o nosso merecimento.

    Resposta

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *