Perda de pessoa amada
[Fabio Dionisi] fabio@editoradionisi.com.br
Não é tarefa fácil aliviar o coração de quem perdeu um ente querido, em consequência das emoções e sentimentos que se fazem presentes nestas ocasiões. O que é natural e compreensível, quando se trata da saudade; contudo, muitas vezes, além dela, brota o sentimento de perda; e, não raras vezes há o choque, principalmente se tudo foi muito súbito, traumático; os quais podem levar, por vezes, à revolta, por falta de compreensão dos desígnios de Deus.
Felizmente, o Espiritismo nos ajuda a lidar, de uma forma racional, com tais acontecimentos, suavizando nossa dor e nos fortalecendo. E esse é o intento deste escrito; o de, através da Doutrina, amenizar a jornada daquele que passa por esta experiência; especialmente, quando o ente querido se foi tão cedo…
Reflitamos sobre alguns pontos importantes deste tema.
Saudades: a saudade é uma realidade incontestável. Em decorrência dela, duas reações possíveis podem ocorrer: o desespero, quando acreditamos que a separação é irremediável, ou o alentador sentimento de quem aguarda o instante do reencontro.
Pensemos um pouco a respeito da primeira reação. Frequentemente, a morte de alguém querido leva quem fica ao desespero. Já, em geral, isso não acontece se o caso for o de uma mudança para longe; pois a possibilidade do reencontro dulcifica a saudade. Se todos soubessem que a morte física se encaixa na segunda situação acima, e que a separação é temporária, poucos teriam motivo para se desesperar. É o que nos ensina o Espiritismo. E vai mais longe, pois também demonstra que o Espírito é imortal, e comprova a existência do mundo espiritual, nossa verdadeira casa, para onde todos retornam e se reencontram, mais cedo ou mais tarde, dependendo do comportamento que cada um deu vazão aqui na matéria densa.
Apego: infelizmente precisamos admitir o fato de que ainda somos possessivos. Apegamo-nos a coisas, pessoas, crenças, valores, etc., mesmo quando já conscientes de que nosso mundo, exterior e interior, é dinâmico, mutável e adaptável ao progresso que todas as pessoas e coisas estão submetidas, por ordem natural dos fatos; por determinação de Deus.
Isso é atávico; resultado dos instintos construídos nas primeiras épocas de nossa existência. No início de nossa jornada, os instintos de sobrevivência, da posse, etc., foram particularmente importantes e indispensáveis para que pudéssemos superar as dificuldades dos mundos em que vivíamos.
Por um lado, se eles são necessários para nossa sobrevivência e para garantir a satisfação de nossas necessidades básicas, por outro, nos tornam possessivos e apegados às coisas e pessoas; principalmente quando fazem parte da esfera de nossos interesses.
O Espiritismo nos instrui que: pelo princípio da pluralidade das existências, a nossa família não está circunscrita ao atual núcleo familiar; somos imortais e destinados a amar a tudo e a todos, indistintamente.
A separação é na verdade um exercício de desapego; uma ferramenta Divina necessária à nossa evolução. No nascimento, somos obrigados a nos despegar da vida do mundo espiritual, com a morte física aprendemos, gradativamente, a renunciar do mundo material. E, assim, sucessivamente…
Egoísmo: esse é um aspecto, de nossa individualidade, que poucas vezes nos damos conta. Diga-se de passagem, que o apego, em essência, é fruto do egoísmo. Preferimos ter por perto a quem se ama, mesmo que isso signifique sofrimento para a pessoa amada. Não fazemos isso com quem está no leito de morte? Emitimos pensamentos com o desejo para que não se vá. Mentalmente, a mantemos aqui na matéria, mesmo quando seu desencarne já está em andamento!
Inúmeras vezes, os Espíritos precisam “nos distrair” para poderem desatar os últimos nós que ligam o perispírito do agonizante ao seu corpo físico.
Através das narrações de André Luiz, podemos tomar conhecimento de como é comum parentes sustentarem alguém, já em transe de morte, no seu corpo físico; bem como o de encarnados lutarem para se manterem em seus corpos físicos, embora estes já se encontrem em avançado estado de desequilíbrio, com seus processos de desagregação já em andamento.
Para que? Só para que “fiquem conosco”, mesmo que sofram mais? Na verdade, estamos pensando mais em nós do que neles…
Imaginamos que neste ponto você possa estar se perguntando: e se for uma morte prematura? Responderia a Doutrina Espírita que, com exceção do suicídio e da eutanásia, não existem mortes prematuras.
A Terra é apenas uma estação de trabalho: contrariamente ao que tanto desejaríamos a Terra não é um parque de diversões; e, nem estamos numa Colônia de Férias. Trata-se de um educandário para alçarmos voos em direção a mundos melhores; e, que tais lugares, para os que viveram no bem, são mais felizes do que o nosso insignificante planeta Terra, ainda de provas e expiações.
Justiça Divina: para aqueles que desconhecem os atributos Divinos e Suas Leis, é até compreensível que se possa alimentar uma dúvida quanto a Justiça Divina; o que leva, não raro, ao desespero; e, daí, à revolta é um passo.
Felizmente, mais uma vez, o Espiritismo vem ao nosso socorro… Dele aprendemos que não pode haver injustiça Divina! Pois isso é impossível, uma vez que Deus tem que ser perfeito em tudo; caso contrário não seria Deus… Dele também aprendemos que tudo o que acontece decorre de uma causa; e, como Deus é justo, justa há de ser essa causa.
Papel da reencarnação: fomos criados simples e ignorantes, para, por esforço próprio, adquirirmos sabedoria e virtudes; e, consequentemente, por merecimento, ascendermos ao Reino de Deus.
O objetivo principal das reencarnações é a evolução, em direção à perfeição que precisamos realizar em nós. Elas visam, através do atrito e das dificuldades que a matéria nos impõe, à aquisição da sabedoria e o desenvolvimento das virtudes.
Diferentemente do mundo espiritual, aqui precisamos garantir a sobrevivência do nosso corpo biológico, e somos compelidos a conviver com Espíritos em escala evolutiva distinta da nossa. A primeira, pelo esforço, nos traz a expansão da inteligência; a segunda nos leva à obtenção das virtudes.
Por isso, podemos concluir: não temos por que aqui ficar quando não precisamos mais… Deus seria injusto se assim permitisse… E, se compararmos a vida na Terra às descrições transmitidas pela espiritualidade, é óbvio que “o lado de lá” é muito melhor… Alegremo-nos, pois nosso ente querido foi realmente “daqui para melhor”!
Uma vez que se foram, temos que ajudá-los: Isso mesmo, leitor amigo. Imaginem se eles tomarem conhecimento de quanto estamos sofrendo com a separação? Desejamos que sejam infelizes por nossa causa? Já não basta a dificuldade que por vezes enfrentam para se adaptarem à nova vida…
A Doutrina esclarece-nos que todo pensamento atinge seu alvo; e, muito mais efeito tem quando se trata de desencarnados. Nossas tristezas são como que raios lançados em suas mentes. Nosso desespero se transforma no desespero deles… Ficam, por vezes, tão preocupados, tão desequilibrados, que estagnam em suas atividades; deixando de percorrer seus caminhos pós-morte; deixando de evoluírem…
O Consolador prometido: chegamos ao fim… Mas, esperamos que a mensagem tenha sido dada: se por um lado é difícil vencermos nossas dificuldades interiores, por outro, “o pensar a respeito”, à luz da Doutrina Espírita, nos ajuda a “racionalizar” nossa dor, minorando-a, sublimando-a…
A saudade fica; as boas lembranças trazem lágrimas; as não tão boas, reflexões; mas, força, irmãos, pois a vida continua… e o reencontro é certo, na hora certa.