Animismo
[José Dutra] dutra2507@hotmail.com
1) O que significam as palavras anímico e animismo?
A palavra anímico vem do latim: anima = alma (é o equivalente do grego psique) + ico = sufixo que indica relativo, pertencente. Anímico significa: relativo à alma, pertencente à alma, próprio da alma.
A palavra animismo também vem do latim: anima = alma + ismo = sufixo que indica doutrina, sistema, conjunto de ideias ou conceitos.
Animismo é o conjunto dos fenômenos relativos à alma do próprio médium.
2) O que é choque anímico?
É o contato de um espírito desencarnado com o fluido vital de um encarnado. O choque anímico ocorre na incorporação ou através de um passe específico para este fim. Na incorporação, da mesma forma que o médium sente a energia boa ou ruim do espírito comunicante, este também sente a energia do médium. No passe de choque anímico, o passista procura transmitir ao espírito sua boas vibrações.
O contato com as boas vibrações do encarnado ajuda o espírito necessitado a se equilibrar, fazendo-o experimentar sensações agradáveis que talvez não sinta há muito tempo. Estas boas vibrações atuam como uma espécie de desintoxicação, e a melhora no teor vibratório pode ajudar um espírito perturbado a despertar para o bem, ou romper a fixação mental de um obsessor para com sua vítima.
O princípio do choque anímico é o mesmo de um abraço dado com carinho a alguém carente. A pessoa que abraça com bons sentimentos transmite conforto e melhora o estado de ânimo de quem recebe o abraço. É o que acontece, por exemplo, quando uma mãe carinhosa abraça o filho que a procura chorando por um motivo qualquer.
3) O que são fenômenos espíritas?
Alguns autores chamam de fenômenos espíritas somente aqueles provocados por espíritos desencarnados. Mas esta não é uma boa definição, porque os encarnados também são espíritos, e os fenômenos provocados por estes também são, portanto, espíritas. Além disso, Kardec deixa bem claro que “Os fenômenos espíritas consistem nos diferentes modos de manifestação da alma ou espírito, seja durante a encarnação, seja no estado de erraticidade.” (A gênese, cap. XIII, it. 9)
É interessante lembrar que, no Espiritismo, alma é um espírito encarnado. (O livro dos espíritos, Q. 134)
Podemos, então, concluir que fenômenos espíritas são todos aqueles provocados por um espírito, encarnado ou não.
Portanto, o espírito do médium também pode dar comunicações. A Codificação diz: “A alma do médium pode comunicar-se como qualquer outra. Se ela goza de um certo grau de liberdade, recobra então as suas qualidades de espírito. Tens a prova na visita das almas de pessoas vivas que se comunicam contigo, muitas vezes sem serem chamadas. Porque é bom saberes que entre os espíritos que evocas há os que estão encarnados na Terra. Nesses casos eles te falam como espíritos e não como homens. Por que o médium não poderia fazer o mesmo?” (O livro dos médiuns, Parte 2, cap. XIX, it. 223-2)
4) O que são fenômenos anímicos e fenômenos mediúnicos?
Conforme a situação do espírito, os fenômenos espíritas podem ser classificados em dois tipos:
Fenômenos anímicos: são aqueles produzidos pelo espírito da própria pessoa.
Fenômenos mediúnicos (também chamados de espiríticos): são aqueles produzidos por outro espírito, através do médium. O espírito que se manifesta pode ser tanto de um encarnado como de um desencarnado.
Os fenômenos anímicos e fenômenos mediúnicos também são chamados de fatos anímicos e fatos mediúnicos.
Kardec não usou o termo animismo, porém tratou claramente das manifestações do espírito encarnado nos estudos sobre a emancipação da alma (desdobramento), bicorporeidade, transfiguração e telegrafia humana (telepatia).
O uso da palavra animismo foi proposto por Alexandre Aksakof, cientista russo, em seu livro Animismo e espiritismo, cap. IV, publicado em 1895.
Vejamos, graficamente, como se processam as comunicações mediúnicas e as comunicações anímicas:
5) Há fenômenos puramente anímicos?
Sim, há manifestações de animismo puro, que são aquelas produzidas pelo espírito do médium, sem a participação de nenhum outro espírito, encarnado ou desencarnado. Por outro lado, também há manifestações anímicas com a colaboração de espíritos desencarnados, por exemplo quando um benfeitor ajuda o espírito do médium a acessar determinados conhecimentos de vidas passadas. Notar que, nestes casos, o benfeitor espiritual atua apenas no processo de acesso aos conhecimentos passados, mas não em sua comunicação.
6) Há fenômenos puramente mediúnicos?
Não há manifestação mediúnica pura, ou seja, sem um componente anímico, porque a manifestação do outro espírito ocorre através do médium, e este sempre exerce alguma influência, por menor que seja. Hermínio Miranda afirma: “Não há fenômeno mediúnico sem participação anímica.” (Diversidade dos carismas, cap. III)
7) Como saber se a comunicação é anímica ou mediúnica?
A distinção pode ser muito difícil, mas há duas possibilidades de fazê-la:
(a) Pela natureza da comunicação: nas comunicações anímicas, é frequente a repetição do estilo e da personalidade, porque o comunicante é sempre o mesmo, ou seja, o espírito do médium,
(b) Pela vidência: na comunicação mediúnica, médiuns videntes poderão ver o espírito comunicante, ao passo que na comunicação anímica não haverá nenhum outro espírito junto ao médium, porque ele estará agindo por si mesmo.
Este recurso, entretanto, não é uma garantia, por dois motivos:
(1) Nem sempre os videntes estão na sintonia adequada para ver o espírito comunicante;
(2) A atuação do espírito comunicante pode ser mente a mente, sem sua presença junto ao médium.
8) A influência anímica dos médiuns nas comunicações mediúnicas é algo normal?
Sim. Sendo a mediunidade um processo de comunicação onde o médium é o intermediário, a mensagem comunicada sofrerá sempre uma maior ou menor influência do médium.
O espírito comunicante utiliza os recursos que o médium tem, portanto sempre haverá algo do médium na comunicação, principalmente entre os iniciantes. Quanto melhor o médium, menos ele interfere na comunicação. O bom médium, portanto, é aquele que interfere o mínimo possível na comunicação.
9) A comunicação anímica é fraude?
Antes de analisarmos a questão, vamos relembrar o que é fraude: é o ato de adulterar ou falsificar algo. Em Espiritismo, fraude é quando o médium falsifica o fenômeno mediúnico, querendo enganar. Não confundir fraude com mistificação, que é quando um outro espírito engana o médium.
A comunicação anímica, como já vimos, é um fenômeno legítimo, porque o espírito do médium também pode se manifestar como outro espírito qualquer, desde que tenha certo grau de liberdade, pois recobra suas qualidades de espírito e fala como tal e não como um encarnado. Não se trata, portanto, de fraude, porque o médium não está falsificando nem querendo enganar.
A influência anímica do médium na comunicação mediúnica também não é fraude, porque a mistura de pensamentos e sentimentos do médium na comunicação mediúnica é inevitável e faz parte do processo mediúnico. Vale ressaltar que não há fenômeno mediúnico puro, isto é, sem participação anímica.
Somente será fraude se o médium, conscientemente e deliberadamente, quiser enganar, sendo desonesto e dizendo que a comunicação procede de outro espírito.
Vejamos o que dizem Hermínio Miranda e André Luiz a este respeito:
“O fenômeno fraudulento nada tem a ver com animismo, mesmo quando inconsciente. (…) É seu espírito (do médium) que se manifesta. Só estará sendo desonesto e fraudando se desejar fazer passar sua comunicação por outra, acrescentando-lhe uma assinatura que não for a sua, ou atribuindo-a, deliberadamente, a algum espírito desencarnado.” (H. Miranda. Diversidade dos carismas, cap. III)
“Muitos companheiros matriculados no serviço de implantação da Nova Era, sob a égide do Espiritismo, vêm convertendo a teoria animista num travão injustificável a lhes congelarem preciosas oportunidades de realização do bem; portanto, não nos cabe adotar como justas as palavras ‘mistificação inconsciente ou subconsciente’ para batizar o fenômeno.” (A. Luiz). Nos domínios da mediunidade, cap. 22)
10) Como deve proceder um dirigente em relação ao animismo?
O dirigente deve proceder sempre com amor fraterno e carinho, procurando compreender e auxiliar o médium, sem jamais ver o animismo como um monstro que precisa ser exterminado.
Hermínio Miranda ensina:
“Na verdade a questão do animismo foi de tal maneira inflada, além de suas proporções, que acabou transformando-se em verdadeiro fantasma, uma assombração para espíritas desprevenidos ou desatentos. Muitos são os dirigentes que condenam sumariamente o médium, pregando-lhe o rótulo de fraude, ante a mais leve suspeita de estar produzindo fenômeno anímico e não espírita (leia-se fenômeno mediúnico). Creio oportuno enfatizar aqui que em verdade não há fenômeno espírita puro (leia-se fenômeno mediúnico puro), de vez que a manifestação de seres desencarnados, em nosso contexto terreno, precisa do médium encarnado, ou seja, precisa do veículo das faculdades da alma (espírito encarnado) e, portanto, anímicas. (…) (O médium) não deixa, portanto, de ser um espírito somente porque está encarnado. Os fenômenos que produzir, como espírito, são também dignos de exame, e não de condenação sumária. Algumas perguntas podem ser formuladas para servir de orientação a essa análise. São realmente fenômenos anímicos? Ou interferências pessoais do médium nas comunicações, no processo mesmo de as ‘vestir’ com palavras, como dizem os espíritos? Por que estariam sendo produzidos? E como? Com que finalidade? Como poderemos ajudá-lo a interferir o mínimo possível a fim de que as comunicações traduzam com fidelidade o pensamento dos espíritos? (…) Entendo, à vista da experiência pessoal em cerca de duas décadas no trato constante com a prática mediúnica, que é possível realizar um bom trabalho saneador nas possíveis interferências, não porém pela condenação sumária e áspera do médium.(…) O fenômeno anímico exige, por conseguinte, experiência e atenção de quem trabalha com médiuns regularmente ou ocasionalmente testemunha manifestações mediúnicas. Não constitui, contudo, um tabu, nem se apresenta como fantasma aterrador que é preciso exorcizar.” (Diversidade dos carismas, cap. III)
Na prática, é muito difícil de se constatar a influência do espírito do médium na comunicação de outro espírito, mesmo porque o animismo faz parte da comunicação mediúnica.
O que o médium precisa é de estudo e moralização constantes, para que o efeito do animismo seja cada vez mais reduzido e o médium interfira cada vez menos nas comunicações.
Joanna de Ângelis recomenda:
“Indispensável muito cuidado, exame contínuo dos problemas íntimos e acendrado zelo pelas letras espíritas, a fim de discernir com acerto e atuar com segurança. Nem tudo que ocorre na esfera mental significa fenômeno mediúnico. Se não deves recear em excesso o animismo, não convém descurar cuidados. (…) Estuda e estuda-te. Evita a frivolidade e arma-te de siso (juízo, bom senso), no mister relevante da mediunidade.” (Celeiro de bênçãos, capítulo 6)
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DUTRA, José. Espiritismo para iniciantes e iniciados. 1. ed. Ribeirão Pires: Editora Dionisi, 2014