EDITORIAL No. 114 (Agosto, 2023) – O Kardec brasileiro
[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br
Caro leitor, estamos falando de um dos gigantes do Espiritismo brasileiro. Tarefa titânica retratá-lo em toda sua grandeza, em umas poucas linhas.
Alma nobre, Espírito de escol, nada que possamos escrever, fará jus ao seu legado, como encarnado. Legado este, multiplicado sem conta, pois, mesmo após seu desencarne, não parou de trabalhar um só instante, que se saiba, em prol do próximo e em beneficio da grande causa que é a 3a Revelação, o Espiritismo codificado por Allan Kardec.
Certa feita, o Espírito Dr. Stefani Oswald (Dr. Arthur Neiva), responsável espiritual pelo Recanto de Luz – Irmã Scheilla, escreveu: “Na terra de Ismael, terra do cruzeiro, cujo mentor é o anjo Ismael, em 1831, nasce o nobre apóstolo Lucas, corporificado como Adolfo Bezerra de Menezes. Hoje, quase angelical, demonstrou em vida todo o amor e compaixão. Filho de militar. Seu primeiro contato com o Espiritismo foi com o médium João Reinaldo (Niterói; 1876), que curava pessoas e pessoas. Ganha, mais tarde, do médico Dr. Joaquim Carlos Travassos, o livro O Livro dos Espíritos, que passa a ler avidamente. Não mais os livros de medicina, como costumava fazê-lo. O Livro dos Espíritos passou a ser seu maior interesse; embora, continuasse chegado aos primeiros…”
Bezerra foi, é e será sempre tão importante para o Espiritismo brasileiro que hoje é considerado o patrono da Federação Espírita do Estado de São Paulo. Não bastasse ter sido fundamental para a introdução do Espiritismo neste país, foi, também, um grande missionário do Bem, nunca perdendo a oportunidade, que o Pai lhe concedeu, para ajudar a quem quer que o procurasse. Desapegado da matéria, esta Alma viveu como um verdadeiro Espírito de Escol, quando encarnado; exemplificando, vivenciando, como o faz até hoje, o Evangelho do Nosso Senhor Jesus Cristo.
Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti nasceu em 29 de agosto de 1831, na antiga Freguesia do Riacho do Sangue, hoje Solonópole, no atual estado do Ceará. Curiosamente, mais tarde, abandanoria o Cavalcanti.
Após completar o ginásio, sai em busca de seu diploma em Medicina. Em 5/02/1851, com a idade de 20 anos incompletos, vai para o Rio de Janeiro, capital do Império.
Para manter-se na Faculdade de Medicina, precisou lecionar desde o segundo ano.
Obtém o Doutorado em 1856, aos 25 anos de idade!, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Não apenas se tornara um médico, mas, sim, acabara de abraçar um sacerdócio, que o levaria a ser conhecido como o “médico dos pobres”!
Dr. Bezerra teve dois casamentos, por viuvez de Da Maria Cândida de Lacerda, carinhosamente chamada de Mariquinhas; com quem se casou a 6/11/1858. Sua esposa veio a falecer aproximadamente cinco anos após o matrimônio, em 24/03/1863, deixando-lhe dois filhos. Dois anos mais tarde, em 21/01/1865, casa-se com sua cunhada Da Cândida Augusta de Lacerda Machado, irmã materna de sua primeira mulher, de quem teve sete filhos.
Teve papel de relevo na política. Dr. Bezerra serviu à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, por meio de eleições consecutivas durante vinte anos; representando, como vereador, às vezes suplente, o município neutro do Rio de Janeiro, na Assembleia Geral Legislativa.
Aos 63 anos de idade, assume a presidência da FEB, cargo que ocupou até o dia 11/04/1900, quando desencarna.
Deixou inúmeras obras. Gostava de escrever, e o fazia tão bem, que era conhecido como o “jornalista elegante”.
Em dezembro de 1899 sofre uma congestão cerebral, e, como consequência deste acidente cerebral, no dia 11/04/1900, às onze e meia, desencarna Dr. Adolfo Bezerra de Menezes. Lembrado hoje como: o “médico dos pobres”, o “Kardec brasileiro”.
O EDITOR
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Nota explicativa:
A origem do título de Kardec Brasileiro
setembro/2021 – Por Luciano Klein
Além da popularíssima denominação de Médico dos Pobres, Bezerra de Menezes vem sendo reverenciado, há muitas décadas, com o título de Kardec Brasileiro. Em nossas pesquisas, encontramos uma antiga referência que nos permite supor tenha sido a partir dela que o epíteto se popularizou.
A edição de 1º de julho de 1904 de o Reformador, publicou um artigo intitulado Pretextos da Discórdia. O texto não está assinado, mas acreditamos ser de autoria do então presidente da Federação Espírita Brasileira (FEB), Leopoldo Cirne (1870-1941), que, demonstrando-se decepcionado, faz alusão a um folheto intitulado Discussão acerca da Personalidade de Jesus, da autoria de José de Gouvêa Mendonça (1842-1916) [1], publicado no Rio de Janeiro. O pensamento de Gouvêa se opunha a algumas ideias defendidas por Cirne, que publicou no Reformador uma série de matérias sob o título A Personalidade de Jesus.
Ao relembrar Bezerra, referindo-se ao seu contestador, Leopoldo Cirne revela no artigo de 1º de julho de 1904:
(…) Bezerra de Menezes a quem o próprio autor desse folheto não hesitou, numa festa pública dos espíritas, realizada pela Federação no Clube Ginástico Português [2], a 3 de outubro de 1895, em proclamar entusiasticamente – O “Allan Kardec Brasileiro” (…).
Folheando o Reformador, de 15 de outubro de 1895, encontramos o registro dessa festa comemorativa, atinente ao 91° aniversário de nascimento de Allan Kardec. Era uma celebração promovida pela FEB e pelo Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil (CUEPB). No vasto salão nobre do Real Clube Ginástico Português, gentilmente cedido pela diretoria, numerosa multidão se fez presente [2]. A sessão, que teve início às 19h30, foi aberta por José de Gouvêa Mendonça, diretor do CUEPB, que declarou:
Em retribuição da fineza ao Centro rendida pela Federação, declinava da honra que o presidente desta lhe acabava de conferir, oferecendo-lhe a direção da festa, e pediu ao Dr. Bezerra de Menezes, nosso presidente, que assumisse efetivamente essa direção. Então este nosso confrade, em alevantadas frases, expôs o motivo da reunião, precedendo-o de eloquentes referências acerca do venerando mestre, e declarou aberta a sessão magna, oferecendo a palavra, como orador oficial, ao nosso vice-presidente Sr. Dias da Cruz.(…).
Depois de muitos expositores inscritos falarem, novamente Gouvêa, em nome do CUEPB, ofereceu à Federação, na pessoa do seu presidente, Dr. Bezerra de Menezes, um belo ramo de flores naturais, artisticamente arranjado, acompanhada, essa oferta, de uma expressiva alocução. Agradecendo, em resposta, o Dr. Bezerra de Menezes disse que profundamente reconhecido a essa significativa prova, aceitava esse ramo como um símbolo de união e de fraternidade entre os espíritas que, juntos e reunidos sob uma única tenda, devem trabalhar pela causa da propaganda, constituindo uma falange inexpugnável, pela união que faz a força (…).
Nada obstante a detalhada reportagem do Reformador, não há o registro da declaração de Gouvêa quanto ao título de Kardec Brasileiro, mas acreditamos plenamente na memória do articulista da referida publicação da FEB (de 1º de julho de 1904), ainda que nove anos depois. O título a que Bezerra fazia jus de fato era uma referência ao estupendo esforço de Max em manter sua coluna mensal – Estudos Filosóficos, nos principais jornais cariocas, trabalho iniciado pelo CUEPB, em 1887.
Consideramos, portanto, ter sido a partir de 3 de outubro de 1895, durante aquela atividade comemorativa ao aniversário de nascimento do Codificador, que o título lhe fora atribuído. Era o ano em que ele assumira a presidência da FEB pela segunda e derradeira vez.
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Referências:
[1] José de Gouvêa Mendonça foi, durante muito tempo orador oficial do Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil, responsável pelas principais alocuções em solenidades comemorativas. Desencarnou no Rio de Janeiro, aos 74 anos, em 11 de julho de 1916.
[2] A Real Sociedade Clube Ginástico Português (Club Ginastico Português) é uma entidade sociocultural desportiva destinada a estreitar os laços entre brasileiros e portugueses. Foi fundada em 31 de outubro de 1868, por dois irmãos portugueses: João José Ferreira da Costa e Antônio José Ferreira da Costa.