Ilusão. Mãe do sofrimento

Um dos desejos mais profundos de qualquer ser humano, que esteja em sua perfeita saúde mental, é o de não sofre e ser feliz.

Quem não deseja ser plenamente feliz e não ter sofrimentos. Se este é um desejo comum e profundo em nossa humanidade, cabe-nos o questionamento: Por que não somos felizes e sofremos?

Sofremos quando não temos, assim como quando temos em excesso; seja o que for. O sofrimento está presente em todas as classes sociais, do pobre ao milionário, do analfabeto ao que tem inúmeros títulos universitários, do que tem fome ao quem tem mais do que pode comer.

Talvez este fato esteja ligado a não observação de que provavelmente o sofrimento não esteja associado aos bens materiais, e sim aos bens espirituais. A pobreza do espírito, que cega nossa percepção da realidade, independentemente da nossa situação social e financeira.

“Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam;
Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.
Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”(Mateus 6: 19-22)

Uma das principais causas dessa cegueira é a ilusão. Vivemos iludidos pelos nossos desejos de felicidade.

Tanto quem tem pouco como quem tem muito, querem cada vez mais, achando que obtendo mais terão paz e felicidade.

 “Vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vos pedirdes”. (Mateus 6:8)  

Nossa falta de Fé e esperança é o que nos causa grande sofrimento. Esta falta está ligada principalmente as nossas ilusões de felicidade.

Sofremos por vivermos mergulhados em ilusões das mais variadas. O mais interessante é que quando perdemos determinada ilusão ficamos ainda mais infelizes. Isto quer dizer que nos habituamos a nos iludir. Viver sem a ilusão, atualmente é como viver sem o celular. Dá uma agonia. Principalmente quando lançam um novo modelo.

Estamos em uma era de extremo consumismo. Sofremos quando não temos o novo lançamento de tal ou tal coisa. E quando conseguimos sofremos porque já tem um modelo mais moderno, e nem sequer aprendemos a lidar com todas as opções do antigo.

 “Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas?”(Mateus 6: 26).

Nossas ilusões e desejos nos causam uma sede e fome quase insaciáveis. E este treinamento já começa na infância. Amor, convivo familiar e disciplina estão sendo substituídos por modernidades tecnológicas. Claro que é importante acompanhar os avanços tecnológicos, mas eles não podem ditar as regras de convivência familiar e social. A ciência nos mostra que os desejos pelo quero mais, estão levando não apenas os jovens, mas também a nossa moderna sociedade a estados cada vez mais ansiosos e depressivos. Basta ver os atuais índices de suicídio que estamos chegando, principalmente em jovens, onde uma das principais causas é a frustração pelo querer e não conseguir ter.

Nossas ilusões nos colocam em um mundo paralelo, onde nos acomodamos até com o sofrimento, e pior, deixamos de nos incomodarmos com o sofrimento do próximo. Optamos pela indiferença no lugar da benevolência.

Passamos por uma mãe e filhos pequenos dormindo na rua e mendigando alimentos, como se fosse normal uma família viver em uma calçada em cima de um papelão. Principalmente quando estamos com o celular nas mãos nos divertindo com as mensagens e brincadeiras, indiferente com o que passa ao nosso redor.

Ou acordamos ou seremos acordados.

“Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.” (Mateus, 5:26).

Ou seja, ficaremos vinculados a dor e sofrimento em mundos de provas e expiações enquanto vivermos na ilusão.

Não podemos confundir perda da ilusão com perda de esperança. Devemos buscar conforto e progresso no trabalho e consequentemente uma melhor condição financeira. Através dos nossos esforços e capacidades poderemos gerar melhores condições socioeconômicas aos nossos semelhantes, assim com proporcionar melhores condições de vida aos entes queridos. Esperança está ligada a Fé, e sendo bem raciocinada nos livra da ilusão e dos apegos, dores e sofrimentos.

O futuro é feito através de esperança e fé no que podemos produzir e construir hoje, no dia presente. Projeções ilusórias do futuro nos tiram o foco da realidade, a qual deve ser enfrentada com lógica e raciocino, jamais ilusões.

O enfrentamento da realidade baseado na Fé raciocinada nos fortalece. Retira de nós os medos, as frustrações e as ansiedades. Mostra-nos as nossas reais capacidades e com isso os meios de atingir metas e propostas de vida.

“Pois se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e há de passar; e nada vos será impossível.”(Mateus, 17:20).

Alexandre Serafim
Medico Neuropediatra. 
Mestre em Neurologia/Neurociência pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP/EPM.
Professor Assistente da Disciplina de Pediatria e Coordenador da Disciplina de Medicina e Espiritualidade,
Departamento de Medicina da Universidade de Taubaté – UNITAU.

dr.serafim@uol.com.br

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