A caridade segundo Paulo de Tarso

[José Dutra]

Paulo de Tarso foi o autor das 14 primeiras epístolas do Novo Testamento da Bíblia, e um dos maiores divulgadores do Evangelho de Jesus.

As epístolas eram cartas escritas pelos discípulos de Jesus e dirigidas a determinadas pessoas ou às primeiras comunidades cristãs. Duas das 14 epístolas escritas por Paulo foram dirigidas aos coríntios, seus companheiros da comunidade cristã de Corinto, uma cidade da antiga Grécia. Em uma delas Paulo fala da caridade:

“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como bronze que soa ou como címbalo(1) que tine. Ainda que ti­vesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciên­cia, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, nada seria. Ainda que distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse meu corpo às chamas, se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria.”(2)

Falar a língua dos homens e dos anjos significa ter o dom da palavra para falar das coisas terrenas e das coisas divinas. Mas de nada adianta a palavra bonita se ela não for usada para ajudar o próximo. O orador que fala da ciência e dos valores divinos, mas não pratica a caridade, é como um sino ou metal que soa, apenas faz barulho, mas não ajuda ninguém, nem a si próprio. A atuação na Doutrina Espírita e no Evangelho requer obras e não apenas palavras.

Ter o dom da profecia é ter o dom da mediunidade. Através da mediunidade podemos buscar instrução sobre a realidade espiritual junto aos espíritos mais evoluídos, podemos ajudar irmãos sofredores através de esclarecimentos, curas e alívios, ou ainda trazer o consolo impagável do contato com um ente querido que voltou ao mundo espiritual, mostrando que a separação é apenas temporária, e não eterna. A mãe que recebe uma mensagem do filho que se foi sabe bem a extensão desse consolo. Mas de que adianta ter mediunidade se ela não for utilizada em benefício do próximo e de nós mesmos?

Conhecer todos os misté­rios e toda a ciência é ter o conhecimento da realidade da vida espiritual e das descobertas científicas. Mas o conhecimento, se não for usado de forma caridosa para ajudar o próximo, de nada serve. Jesus nunca disse “a cada um de acordo com o seu conhecimento”, mas sim “a cada um de acordo com as suas obras”.(3)

Ter toda a fé a ponto de transportar montanhas é ter plena convicção das ver­dades divinas, e as montanhas que a fé transporta são as enormes dificul­dades que atrapalham a nossa evolução, como o orgulho e o egoísmo. Porém, é preciso que a fé esteja acompanhada da prática daquilo que acreditamos e do bom exemplo. Como disse Tiago, “a fé, se não tiver obras, está completamente morta”.(4)

Distribuir todos os bens em esmolas é praticar a caridade material, o que é louvável, porém não é a caridade completa, porque supre apenas a necessidade material, mas não a mais importante, que é a necessidade moral. Muitas pessoas não precisam de ajuda material, ou não precisam apenas dela, mas sim do alimento espiritual, de uma palavra de amor, de consolo, de esperança.

Entregar o corpo para ser queimado significa dar testemunho de fé, como os mártires do Cristianismo, que foram queimados e trucidados por feras pelo fato de serem cristãos. Hoje não enfrentamos o chicote, o suplício no tronco, nem as feras no circo, mas é preciso coragem para enfrentar o imediatismo dos valores materiais, as deturpações que divulgam conceitos absurdos por má-fé ou falta de conhecimento, e até mesmo para enfrentar o sarcasmo.

Nos versículos seguintes, Paulo fala dos atributos da caridade:

“A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.”


(1) Címbalo era um antigo instrumento de cordas ou um prato musical.

(2) 1 Coríntios 13:1-3. Em algumas Bíblias, ao invés da palavra caridade, aparece a pa­lavra amor. No original, está a palavra grega agape, que pode ser traduzida como amor ou cari­dade, porque a caridade é um amor que quer o bem do próximo.

(3) Mateus 16:27.

(4) Tiago 2:17.

Este artigo é uma adaptação do capítulo 31 do livro Espiritismo para iniciantes e iniciados, do mesmo autor, publicado pela Editora Dionisi.

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