Doenças incuráveis e a eutanásia

[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br

Acreditamos oportuno tecer alguns comentários a respeito da eutanásia, uma vez que ainda encontramos confrades e confreiras apoiando este procedimento diante de situações terminais, ou mesmo de certas doenças incuráveis, como forma de minimização dos sofrimentos daqueles irmãos que as vivenciam.

Por que existem doenças incuráveis?

“Por que não será permitida às entidades espirituais a revelação dos processos de cura (…) do câncer, etc.? — Antes de qualquer consi-deração, devemos examinar a lei das provações e a necessidade de sua execução plena. Na própria natureza da Terra e na organização de fluídos inerentes ao planeta, residem todos esses recursos, até hoje inapreendidos [não identificados] pela ciência dos homens (…). O plano espiritual não pode quebrar o ritmo das leis do esforço próprio (…). Além de tudo, a doença incurável traz consigo profundos benefícios. Que seria das criaturas terrestres sem as moléstias dolorosas que lhes apodrecem a vaidade? Até onde poderiam ir o orgulho e o personalismo do espírito humano, sem a constante ameaça de uma carne frágil e atormentada? (…).” 1 (Q. 101)
Dos benfeitores espirituais, não raras vezes, ouvimos que a decisão de que recebamos, uma determinada substância curadora, ou de que seja descoberto um novo procedimento terapêutico ou equipamento médico, para a cura de um dado mal, depende diretamente de Jesus.
É nosso irmão Jesus que determina quando a humanidade terrestre reencarnada receberá o benefício da descoberta de uma substância farmacêutica, o desenvolvimento de novos processos, tanto profiláticos quanto terapêuticos, o surgimento de novos equipamentos, na área médica, para a cura de uma doença até agora incurável, que não poucas vezes redundam em serem terminais.
Enquanto houver a necessidade de uma dada enfermidade, por motivos de aprendizado, quer seja individual ou coletivo, não poderemos contar com tal benefício.
Somente quando o homem tiver ultrapassado uma dada etapa evolutiva, e não mais precisar daquela doença, por intermédio dos seus comandados diretos, Jesus permitirá que a Medicina do Além “desça” até nós.
Quer por inspiração ou intuição, alguém irá “descobrir” o meio de debelar uma dada enfermidade, até então considerada incurável ou terminal.
Por isso que o Espírito Emmanuel comentou que “a doença incurável traz consigo profundos benefícios”, uma vez que nos serve de motivo para efetuar as mudanças que carecemos, ou seja, vencermos os vícios que nos corroem a alma e o corpo.
Foi assim com a tuberculose, malária, lepra, etc. Quando elas deixaram de ser necessárias, para os avanços evolutivos de que carecíamos em suas respectivas épocas, remédios e procedimentos nos foram disponibilizados. O mesmo acontecerá com o HIV, mal de Alzheimer, o câncer, etc., bem como as doenças que surgirão no futuro.
Por enquanto, muito irmãos carecem de passar por estas provas e expiações, para galgarem novos patamares espirituais.
Além disso, não podemos esquecer de que também contribuem com o despertar espiritual.
Obviamente que muitos já são beneficiados com estes recursos, já desenvolvidos no mundo espiritual, embora não ainda disponibilizados no mundo físico.
Por que não seriam usados pela espiritualidade, em nosso benefício, quando Jesus e seus prepostos autorizam uma dada cura? Afinal de contas, a Medicina do além já dispõem de tais fa-cultativos.
Se é um fato que não podem fazer com que sejam de domínio público, entretanto, podem usá-los nos casos em que o atendido, numa cura e cirurgia espiritual, apresentar os requisitos para ser uma exceção: a do mérito pessoal ou por necessidade reencarnatória dele ou de alguém que dele depende.
Falamos em cura, mas é comum que o atendimento leve a pelo menos uma atenuação das dores do irmão que sofre.
“Podem os espíritos amigos atuar sobre a flora microbiana, nas moléstias incuráveis, atenuando os sofrimentos da criatura? — As entidades amigas podem diminuir a intensidade da dor nas doenças incuráveis, bem como afasta-la completamente, se esse benefício puder ser levado a efeito no quadro das provas individuais, sob os desígnios sábios e misericordiosos do plano superior.” 1 (Q. 102)
Perceberam a última frase do Espírito Emmanuel: “sob os desígnios sábios e misericordiosos do plano superior”? Comprova o que nossos benfeitores dizem, sobre a autorização dos Espíritos que lhes são superiores. É o plano superior que determina quem vai ser curado ou não, quem vai receber esse ou aquele benefício. Daí os Espíritos, diretamente ligados aos trabalhos de cura, executarem suas atividades dentro dos limites pré-estabelecidos pelos Espíritos de luz.
E aqui entramos com o tema da eutanásia; ainda hoje apoiada por alguns confrades e confreiras.

É certo praticar a eutanásia no caso de moléstia incurável, mesmo quando terminal?

Acreditamos em ser mister registrar o significado do verbete “eutanásia”, segundo o Novo dicionário Aurélio, antes de introduzirmos a resposta: “(…) prática, sem amparo legal, pela qual se busca abreviar, sem dor ou sofrimento, a vida de um doente reconhecidamente incurável.” 2
Uma vez feito isso, transcreveremos a resposta taxativa do Espírito Emmanuel. Por si só bastaria aos nossos propósitos…
“A eutanásia é um bem, nos casos de moléstia incurável? — O homem não tem o direito de praticar a eutanásia, em caso algum, ainda que a mesma seja a demonstração aparente de medida benfazeja. A agonia prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma e a moléstia incurável pode ser um bem como a única válvula de escoamento das imperfeições do Espírito da vida imortal. Além do mais, os desígnios divinos são insondáveis e a ciência precária dos homens não pode decidir nos problemas transcendentes das necessidades do Espírito.” 1 (Q. 106)
Com a eutanásia tiramos o direito inalienável do Espírito aproveitar da experiência reencarnatória, para seu próprio benefício, o que o faria conquistar patamares evolutivos mais elevados, tanto em sabedoria quanto em virtudes.
A sua prática apenas posterga o sofrimento, pois que terá que recapitular a experiência perdida, retardando o reencontro com o seu equilíbrio espiritual, uma vez que demandará inúmeras décadas para que a oportunidade seja novamente possível.
A bem da verdade, nem teríamos a necessidade de recorrer ao egrégio Espírito Emmanuel, uma vez que Allan Kardec deixou muito claro que abreviar a vida, em qualquer circunstância, para evitar o sofrimento, é crime condenável.
Embora tenha se referido ao suicídio, quando a morte é considerada inevitável, é perfeitamente aplicável para a eutanásia.
“Quando uma pessoa vê diante de si um fim inevitável e horrível, será culpada se abreviar de alguns instantes os seus sofrimentos, apressando voluntariamente sua morte? — É sempre culpado aquele que não aguarda o termo que Deus lhe marcou para a existência. E quem poderá estar certo de que, malgrado às aparências, esse termo tenha chegado; de que um socorro inesperado não venha no último momento? (…)” 3 (Q. 953)
Cabe-nos comentar que, em nossos múltiplos anos, participando de atividades de curas e cirurgias espirituais, aprendemos a jamais afirmar que essa ou aquela situação é derradeira. Pois, não poucas vezes constatamos curas que seriam classificadas pela Medicina da Terra como “improváveis, ou mesmo impossíveis”.
Ademais, não podemos descosiderar que para Deus tudo é possível.
Diante do que recapitulamos, acreditamos que é hora de não termos mais dúvidas a respeito de qual é a posição que todos nós devemos adotar diante deste assunto. É compreensível que aqueles que não tenham preparo religioso tenham dúvidas, ainda hoje, mas não entre nós, seguidores da Doutrina Espírita.

Oxalá todos nós permaneçamos na paz que Jesus procurou nos deixar.


1 XAVIER, Francisco Cândido. O consolador. Ditado pelo Espírito Emmanuel. 13. Ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1986
2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 4. ed. Curitiba: Editora Positivo, 2009
3 KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2010.

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