Ciência X Religião

[Carlos Eduardo Cavalini] carloseduardo.cavalini@hotmail.com

Créditos da imagem: Grupo Espírita Yvonne Pereira (GEYP) [https://geyp.com.br/ciencia-filosofia-e-religiao/]

Há um mês, mais ou menos, ouvi a história de uma médica que havia deixado de ser espírita exatamente por não conseguir conciliar a sua profissão com a religião. Trabalha em um hospital conceituado, na área de pediatria. Convive diariamente com crianças portadoras de câncer. Conhece toda a rotina do tratamento com quimioterapia e é testemunha do sofrimento delas e de todos os envolvidos.

É uma médium em potencial. Vez ou outra percebe a presença de entidades junto a ela ou aos pacientes. Sabe que, em muitos casos, além das crianças em tratamento contra o câncer, pois também convive com pacientes que apresentam outras enfermidades, as questões são de ordem espiritual e não apenas físicas. Algumas vezes já até presenciou pacientes tendo visões de entidades por perto, mas não soube como agir. Não poderia dizer que também estava vendo. Diversas dúvidas a assolavam e, sem saber o que fazer, a jovem médica, sufocada, decidiu deixar de ser espírita. Optou por seguir sua profissão.

Agora, bloqueia suas visões, não quer mais ver. É preciso ser racional e seguir o que a medicina atual diz ser o mais correto. Quando percebe algo fora do habitual, a médica orienta que o paciente seja avaliado por um psicólogo ou psiquiatra e um dos possíveis diagnósticos será a esquizofrenia. Sabe que não é exatamente isso, mas como dizer aos pais da criança que o melhor seria procurar um lugar mais adequado, como um centro espírita, por exemplo? Vai contra a ética profissional. O que diria o conselho de ética, seus amigos de profissão, os pais da criança? Não, isso não é possível. A medicina certamente saberá como cuidar desse assunto e achará uma solução. Não há espaço para a religião.

Por que é tão difícil conciliarmos a ciência com a religião? Nesse caso mais específico, a medicina com a religião? Talvez por que automaticamente nossa concepção diz que são coisas separadas ou opostas entre si. A ciência trabalha com o empirismo, com a comprovação, com a certeza. A religião lida com a crença, com a fé, com o impossível. Não pode haver concordância entre as duas, pois água e vinho não se misturam. E quem quiser juntá-las, irá se ferir. Mas não deveria ser assim.

Antigamente, antes de a filosofia abrir espaço para a ciência, a religião, mais precisamente a católica, era tida como a verdade absoluta. Quem ousasse contestá-la, rapidamente era eliminado e tirado do caminho. Durante centenas de anos, a imposição e o poderio dos papas católicos se fizeram presentes. Com o passar do tempo, a religião católica foi se enfraquecendo, dando espaço a uma visão mais moderna, mais satisfatória, mais certeira e precisa: a ciência. E o que vemos agora em relação à ciência? Praticamente a mesma coisa do que o que víamos em relação à religião naquela época. Talvez não tão abertamente nem com tanta violência como no passado, mas com certeza uma imposição fria, na maioria das vezes silenciosa. Ciência e religião são apenas duas palavras, dois conceitos que estão se revezando no tempo. E nós dançamos de um lado ao outro quando na verdade deveríamos dançar com as duas, ou melhor, dos dois lados ao mesmo tempo. Mas como se são conceitos distintos? Se são distintos é por que a nossa mente e a nossa razão fazem a distinção. Para a consciência, não há distinção. A nossa necessidade angustiante de tentar explicar tudo acaba por criar uma barreira entre os dois conceitos. O que a ciência não consegue explicar, de uma forma empírica, é deixado à parte. Cabe então, à religião dar sua explicação, levando em conta uma energia superior e divina. Enfim, a “explicação” tem que estar presente o tempo todo. A verdade, que também é apenas uma palavra, está além da ciência e da religião. E quando isso for sentido ou compreendido, uma servirá de apoio à outra, revezando-se no lançamento para o alto.

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