Eu e o outro

[Carlos Eduardo Cavalini] carloseduardo.cavalini@hotmail.com

Cada pessoa que encontramos pelo caminho é na verdade um espelho que reflete exatamente o que somos. Podemos nos enxergar em cada aspecto de nosso semelhante. Se formos atentos, saberemos certamente o que devemos mudar em nós mesmos apenas observando nossos sentimentos e nossos pensamentos em relação ao outro.
Sentimos raiva ou antipatia por determinada pessoa? Qual o motivo? Por que julgamos nossos semelhantes pelas suas ações? Pelo fato de nos acharmos melhores ou superiores? Ou por que simplesmente não nos conhecemos o bastante? Pois é exatamente aquilo que julgamos de errado em outra pessoa que devemos reconhecer em nós mesmos.
Muitas vezes apontamos defeitos em nossos irmãos de jornada, características de personalidade nada agradáveis, algo que nos causaria repugnância, e sem pensar nos apressamos em dizer que jamais agiríamos daquela forma.
O que ocorre é que a todo instante estamos colocando um pouco de nós — principalmente aquilo que nos causa repulsa — nas pessoas que nos cercam. Na maior parte do tempo não percebemos que projetamos no outro nossos piores defeitos.
Por serem defeitos realmente terríveis, não conseguimos enxergá-los em nós mesmos. Admitir que os guardamos dentro de nós mesmos seria algo que nos deixaria muito mal. Por esse motivo, inconscientemente, projetamos nossos defeitos nas outras pessoas. Somos capazes de julgar a falha de caráter de nosso semelhante, mas não somos capazes de admitir que também somos portadores dessa mesma falha de caráter.
Não é uma tarefa fácil admitirmos que não somos tão bons quanto pensávamos, que também erramos e nos enganamos muitas vezes, e tornamos a errar e a nos enganar. É doloroso chegarmos à conclusão de que temos os mesmos defeitos que antes apenas víamos em outras pessoas.
No entanto, alcançar essa consciência e essa clareza nos coloca em condição de saber exatamente o que precisamos modificar em nós mesmos para nos tornarmos seres humanos melhores. Mais do que isso, percebemos que julgar nosso irmão não faz mais nenhum sentido. Passamos a enxergar nossas vidas por outro ângulo.
Cada ser humano que passa pelas nossas vidas é um mestre que tem muito a nos ensinar. Cada pessoa que cruza nosso caminho assim o faz para que possamos nos reco-nhecer nela e nos transformarmos interiormente.
Esse é um mundo de convivência e é por meio dos relacionamentos que vamos alcançando pouco a pouco a nossa essência, nosso ser mais verdadeiro e natural.
Cada experiência que temos com o outro, cada aconte-cimento que compartilhamos com alguém, é uma oportunidade que temos para nos conhecer melhor.
Mas isso só é possível quando compreendermos que precisamos das pessoas, que estamos todos juntos, no “mesmo barco”.
E será mesmo que existe uma “separação real” entre nós e nosso semelhante? Fazemos parte de um conjunto, como um imenso relógio com uma infinidade de engrenagens. Não há como separar as engrenagens.
O relógio não funcionaria sem uma de suas partes. Todas as engrenagens são “praticamente iguais”, algumas maiores, outras menores, cada uma trabalhando em seu ritmo, mas com igual importância.
Se alguém cruzar nosso caminho, que possamos ofe-recer algo a essa pessoa e possamos nos enxergar nela. Que dádiva podemos oferecer ao nosso semelhante?
Mesmo acreditando no contrário, todos nós temos algo a oferecer, por menor que seja. E oferecendo uma dádiva para alguém, inevitavelmente a receberemos de volta para nós.

Um comentário em “Eu e o outro

  • 12 de março de 2021 em 14:05
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    Linda reflexão.Por isso devemos ter uma imagem exemplar dentro do nosso aprendizado.Refletindo na imagem do outro com certeza encontrarei em mim o que preciso melhorar,mudar.

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