Editorial No. 125 (Julho, 2024) – “Suicídio segundo a Doutrina Espírita”

Editor responsável: Fabio Dionisi
[Fabio Dionisi] fabiodionisi@terra.com.br

Como abordarmos esta questão tão delicada para todos nós? Mito e tabu, ao mesmo tempo… Deixaremos para Allan Kardec, em sua obra: O Livro dos Espíritos. 1

“Q. 944. O homem tem o direito de dispor da sua própria vida? — Não; somente Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão dessa lei.”

Mas não é só isso, uma vez que precisamos aprofundar conceitos. É o que faremos dando continuidade com O Evangelho segundo o Espiritismo 2, codificado, igualmente, por Allan Kardec, onde encontramos subsídios suficientes para nos posicionarmos sobre este assunto, como Espíritas. Mais especificamente em dois temas do capítulo V, intitulado “Bem-aventurados os aflitos”, nos itens 14 a 17: “O suicídio e a loucura”, e no item 29: “Sacrifício da própria vida.”

A bem da verdade, poderíamos excursionar em muitos outros livros da lavra de Allan Kardec, mas isso não se faz necessário; por isso, ficaremos somente com a obra que contêm a parte moral da Codificação Espírita.

Nestes quatro itens (14 a 17), em O Evangelho segundo o Espiritismo 2, o mestre lionês Allan Kardec explicou que o Espiritismo é o melhor preservativo para o suicídio, uma vez que por meio dele pode-se encontrar a calma e a resignação na maneira de considerar a vida terrestre e o futuro, proporcionando ao Espírito o melhor preservativo contra o autoextermínio; como decorrência de dois benefícios hauridos com seu estudo e aceitação: (a) o de encarar as coisas deste mundo de uma maneira que se pode chegar a receber com indiferença os problemas, e (b) da certeza de que melhores dias virão. Facilitando a conquista da paciência necessária para se evitar o desespero.

De forma resumida, aqui estão os pontos importantes abstraídos do estudo destes quatro itens: exceto em estado de embriaguez e de loucura (ambos, quando inconscientes), é incontestável que ele tem sempre por causa um descontentamento; como somos imortais, quem não crê na eternidade e julga que tudo se acaba na morte acha muito natural abreviar pelo suicídio as suas misérias; a incredulidade, a dúvida sobre o futuro e as ideias materialistas são os maiores incitantes ao suicídio; o Espiritismo torna impossível qualquer dúvida, pois traz a paciência e a resignação, daí a coragem moral dos seus adeptos; ademais, os próprios suicidas nos informam da situação desgraçada em que se encontram, provando que ninguém viola impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem abreviar a sua vida. 3 (p. 120)

O Espírita, mais do que qualquer outro crente, tem vários motivos que se contrapõem à ideia do autoextermínio. Fruto de sua convicção de uma vida futura, sabe que será tanto mais feliz, quanto mais resignado tenha sido durante suas provações e expiações; a certeza de que chegaria num resultado oposto ao que esperava, pois, além de não se libertar de um mal, incorre em outro muito pior; que se engana, imaginando que vai mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo ao reencontro com seus seres amados. Enfim, que o auto aniquilamento é contrário aos seus próprios interesses.

Mais um ponto é de nosso interesse, para concluirmos este item sobre o suicídio segundo a Doutrina Espírita. É o que veremos a seguir: O suicídio disfarçado em atitude meritória…

O item 29 inicia com uma questão: “Aquele que se acha desgostoso da vida, mas que não quer extingui-la por suas próprias mãos, será culpado se procurar a morte num campo de batalha, com o propósito de tornar útil sua morte?” 2

A resposta de São Luís é enfática ao afirmar que se suicidando, ou fazendo-se matar, seu propósito é sempre interromper sua reencarnação; consequentemente é um suicídio intencional.

Ademais, “é ilusória a ideia de que sua morte servirá para alguma coisa; isso não passa de pretexto para colorir o ato e escusá-lo aos seus próprios olhos. Se ele desejasse seriamente servir ao seu país, cuidaria de viver para defendê-lo; não procuraria morrer, pois que, morto, de nada mais lhe serviria.” 2

No texto também chama atenção a frase: “Disfarçado em atitude meritória.”

Embora tenha sido dirigida para quem busque propositalmente a morte em campo de batalha, podemos estender seus conceitos para outras situações.

Resumindo, como o fizemos no item anterior: “Suicídio e a loucura”, com esta passagem aprendemos dois pontos capitais: suicidando-se, ou provocando a sua desencarnação através de outrem, seu propósito é sempre interromper sua existência corpórea, por conseguinte, em ambas as situações, considera-se como suicídio intencional; é ilusória a ideia de que sua morte servirá para alguma coisa, uma vez que não passa de pretexto para colorir o ato e escusá-lo aos seus próprios olhos.

Fiquem, como sempre, em paz. É do nosso desejo sincero.

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1 KARDEC, Allan. O livro dos Espíritos. 3. ed. comemorativa. Rio de Janeiro: FEB, 2007.

2 KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. 64. ed. São Paulo: Lake, 2007.

3 DIONISI, Fabio A. R. Suicídio. Precisamos falar a respeito! 1. ed. Ribeirão Pires, SP: Editora Dionisi, 2019.

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O autor é editor, articulista, escritor, palestrante, jornalista; responsável pelo CE Recanto de Luz – Pronto Socorro Espiritual Irmã Scheilla, em Ribeirão Pires (SP).

www.irmascheilla.org.br

Um comentário em “Editorial No. 125 (Julho, 2024) – “Suicídio segundo a Doutrina Espírita”

  • 29 de julho de 2024 em 16:32
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    🙏Gratidão 👍 é sempre muito importante suas explicações.

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